As fronteiras a abrirem, as regras do Covid a ficarem mais brandas e as saudades de viajar, levaram-me a começar a sonhar novamente com uma bodyboard trip. E o que melhor do que um destino tropical? Escolher a Indonésia foi uma decisão fácil. As ondas perfeitas de reef, a variedade de spots, a água quente e o custo de vida mais acessível. Tudo isto levou-me a começar a planear a viagem logo em abril.
Texto de Daniel Fonseca @danielfonsecabb
Fotos de Henrique Casinhas @hcasinhas
Convidei o meu primo Henrique Casinhas para me acompanhar na viagem. Sabia que era um bom parceiro para a aventura, pois nos últimos anos temos trabalhado juntos, ambos representamos a Deeply e, claro, o Henrique é super profissional no que toca a fotografia e vídeo dentro ou fora de água. Ele não hesitou perante a proposta e em pouco tempo deixei tudo pronto para arrancarmos para o oceano Índico com data marcada para meados de julho.
A porta ficou aberta para explorar a Indo durante um mês. Ainda se juntou ao grupo um dos meus melhores amigos, o Baltazar, simplesmente para ir conhecer a Indonésia, pescar e eventualmente aprender a surfar. O objetivo desta viagem passava por surfar o máximo possível, fazer boas imagens, evoluir o meu nível em ondas de reef, conhecer melhor a cultura Indonésia, pescar e apreciar ao máximo a beleza natural destas ilhas paradisíacas. Só cerca de uma semana antes de partir é que decidi o destino final. Perante as previsões decidi irmos para Krui no sul de Sumatra.
Foi em que Krui que visitei pela primeira vez a Indonésia. Passados 11 anos estava de volta.
As ondas não mudaram, a zona é composta por uma baía natural com picos mais expostos e outros mais abrigados (5 esquerdas e 2 direitas), com vento offshore a partir das 11 horas. Para minha surpresa toda a primeira linha de costa nesta baía está agora construída com surf camps e restaurantes, algo que não existia da primeira vez que visitei a zona. Além desta baía de Krui, existe ainda um beach break com ondas tubulares a 15 minutos de mota. Para norte, encontra-se a zona menos explorada onde ainda é possível surfar com pouco crowd, com provavelmente a melhor onda da zona, a esquerda de Honey Smacks. Resumindo Krui cresceu e o crowd de surf em geral também cresceu.
Desta vez decidi ficar a dormir em acomodações em que o dono fosse indonésio. Em Krui fiquei com o Oki, dono de um surf camp em frente a Krui Left. A noite mais três refeições e aluguer de mota ficava por 260 mil rupias indonésias (cerca de 17 euros/dia).
Em 15 dias apanhamos duas ondulações com bom tamanho. Os melhores dias passaram por ir surfar ao nascer do dia a Honey Smacks, onde procurava tubos intensos e rampas para manobrar, e depois a meio do dia e ao final de dia ficávamos a surfar tubos fáceis por Krui: The peak, Leftovers ou mesmo Krui Left.
Quando o swell esteve mais pequeno surfava em Mandiri (beach break) e depois aproveitávamos para ir visitar as várias cascatas nas redondezas, pescar ou mergulhar.
Algo que já não estava habituado e, infelizmente, é uma prática comum na Indonésia é a utilização de plástico de uma só utilização e embalagens descartáveis. Sendo que, em geral, todos atiram o lixo para o chão. Então é normal ver as praias cheias de lixo. Algo que me deu alguma esperança foi ver alguns cartazes de sensibilização e tive conhecimento de uma palestra na escola local onde também foram convidados alguns membros do governo. Infelizmente, o problema principal é a falta de infraestruturas para receber o lixo, é muito difícil encontrar um caixote de lixo em qualquer lugar.
Em conversa com o dono do surf camp, Oki, percebi que os dois anos em que as fronteiras estiveram fechadas foram bastantes duros para quem tinha negócio ligado ao turismo. Alguns estabelecimentos fecharam e outros tiveram de vender algumas coisas para sobreviverem. Alguns venderam as motas que tinham para alugar, por exemplo. Para terem comida viraram-se para o campo e para o mar, tiveram de voltar às raízes.
Passados 15 dias em Krui, decidimos ir para Java, destino da famosa baía de Watu Karung, cada vez mais procurada. Dois voos e 11 horas de carro depois, chegámos a este novo local. Chegámos pela hora de jantar onde ficámos a conhecer um australiano que estava de partida naquela noite, porque, naquele dia, tinha cortado o pé e levado 6 pontos depois de um wipeout e uma colisão com o reef afiado. Mais à frente na viagem ele voltou a Watu e fiquei a saber que este bodyboarder era o Paul Blaz, o australiano “casca grossa” que ganhou os trials e ficou em 4.º lugar no Teahupoo Tahiti Challenge 2017.
Watu é um destino famoso para os turistas indonésios. Ao sábado e domingo chegavam autocarros cheios de pessoas de várias partes do país para virem visitar a zona.
Os Indonésios também apreciam esta parte de Java por ser mais amena e menos húmida do que as áreas mais a norte. Ao longo da costa existem casas de sonho, a maioria da posse de indonésios ricos.
Nesta zona respira-se bodyboard, as ondas são perfeitas para bodyboard: uma direita curta mas intensa, com um tubo e uma boa boca para manobrar no final e uma esquerda que, de maré mais vazia, tem um tubo intenso e rápido e de maré mais cheia forma uma rampa para os mais audazes fazerem todo o tipo de manobras.
A baía é bastante exposta às ondulações, pelo que facilmente fica grande demais. Contudo, em termos de vento, é super consistente. Sideoff na direita e offshore na esquerda. Existem algumas alternativas a estas duas ondas, mas ou são longe ou pouco consistentes. Surfei praticamente todos os dias cerca de duas a três vezes por dia. No final estava já estava exausto, o rendimento a surfar acabou mesmo por baixar de tanto cansaço.
Na primeira semana nesta baía estavam somente 7 bodyboarders no total, pelo que dividi muitas vezes o pico somente com um ou dois bodyboarders.
Muitas vezes o meu companheiro de surfada foi o Ziggy, bodyboarder da Ilha Reunião. Desconhecia o Ziggy, mas rapidamente percebi o quão elevado era o seu nível. Sempre à vontade a manobrar em secções pesadas e rasas fazendo todo o tipo de manobras. Atualmente a viver na Austrália é, de certeza, um bodyboarder que vale a pena acompanhar.
A falta de crowd não foi um problema na última semana, pois, numa questão de poucos dias, chegaram cerca de 15 pessoas. Mesmo assim havia ondas para todos.
O Henrique fotografou e filmou bastante dentro de água em Krui, mas em Watu Karung foi diferente. Sendo uma baía com dois picos, a água que entra tem de sair pelo canal entre as duas ondas, criando uma corrente forte para fora. Nos dias maiores esta corrente parece um rio. Devido a isto, o Henrique só entrou duas vezes na água. Por outro lado, a baía é como uma arena natural. Existem ângulos incríveis de fora de água, incitando a criatividade dos que se encontram atrás da lente.
No último jantar pedimos ajuda ao nosso anfitrião Gery para nos comprar um atum e fazer um sashimi, bem acompanhado pelas famosas cervejas Bintang e a ver o pôr-do-sol. Depois de um último dia de ação foi terminar com chave de ouro. Foi bom voltar a este paraíso. E sinto que quero voltar, porque ainda tenho muitas ondas que conhecer neste vasto país. xxx