Dezassete anos após o seu primeiro título mundial, o “Baiano Voador” conquistou novamente o topo! Símbolo de resiliência, dedicação e devoção ao desporto, Uri lutou por quase duas décadas para chegar lá mais uma vez. Porém, o que isso nos diz além do título em si?
Por Felipe Dorigão
Fotos de arquivo
O circuito mundial é, em essência, a apoteose da performance em qualquer desporto. É lá onde o ritmo é ditado, os limites são superados e as tendências são lançadas. Até aqui, nada de novo — exceto um facto curioso que acende um alerta amarelo: quantos outros desportos de ação vimos nos últimos anos coroarem um atleta de 40 anos como campeão do mundo? Pierre-Louis Costes, o vice-campeão, tem mais de 35 anos, e Amaury Lavernhe, o campeão da etapa, vai com 40.

Seria isso o suprassumo da performance? Esses atletas evoluíram tanto a ponto de continuar a dominar o tour por duas décadas… ou existem outros fatores a considerar?
No nosso desporto vizinho, o surf, há anos atrás, por exemplo, vimos Kelly Slater vencer uma prova do Pipe Masters uma semana antes de completar 50 anos. Sabemos que essa é uma onda que beneficia muito a experiência e a técnica, mas, ao longo do tour, esse mesmo nível de performance não se manteve constante. Por que, então, no bodyboard, temos tantos atletas já com alguma idade ainda no topo?

Dizem que uma geração se define, mais ou menos, em 25 anos. No bodyboard, esse conceito torna-se ainda mais verdadeiro. Venho da geração “Tension e No Friends”, assim como a maioria dos bodyboarders que conheço. O que sabemos sobre bodyboard veio dessa época — e as caras que aprendemos a idolatrar também.
Pierre, Amaury, Uri e Éder são talvez os últimos remanescentes dessa era do bodyboard. Durante essas duas décadas, enquanto vimos o hiato dos títulos de Uri, as revistas físicas desapareceram, os filmes mudaram radicalmente — seja em estilo, conteúdo ou duração —, mas o desporto, pelo menos no imaginário da maioria, continua naquela outra era.

Agora pergunto eu: somos apenas saudosistas da nossa juventude ou realmente não conseguimos gerar novos ícones que transcendam a performance e se tornem personagens e referências de toda uma geração? Nunca mais tivemos um Damian King, Ryan Hardy, Sean Virtue, Jeff Hubbard, Dave Winchester, Andre Botha, Guilherme Tâmega etc. O que nos falta? Onde realmente parámos ou mudámos?
A nova geração, já não tão nova, liderada por Tristan Roberts e Armide Soliveres, tem uma árdua missão pela frente: a sua performance, mesmo a nível altíssimo, às vezes não é “suficiente” aos olhos dos mais antigos. Por enquanto, temos alguns dos nomes mencionados ainda a dividir essa responsabilidade, mas… e quando o Pierre e os outros pararem? Como será?

Em contrapartida, na Austrália, considerada uma espécie de terra-mãe do bodyboard, pelo menos do “Velho Testamento”; o lançamento do último filme da sequência TENSION 11 tem levado dezenas de pessoas às salas de cinema para celebrar aqueles tempos.
Terá este legado tão forte tornado-se o nosso calcanhar de Aquiles? Vai saber…
Apenas levanto aqui ideias e questões, estão longe de serem afirmações definitivas. E vocês, já pensaram em como estamos a envelhecer? E, principalmente, como estamos a renovar-nos?

