Formada nas ondas da Figueira da Foz, Mariana Silva chamou a atenção na última etapa do Circuito Nacional Open onde, com uma atuação irrepreensível e muito atitude, alcançou brilhantemente a final. A campeã nacional sub-18 tem os pés bem assentes na terra e sabe que o que é realmente importante é divertir-se. No entanto, o futuro poderá revelar mais boas surpresas. Aproveita para ler a entrevista exclusiva.


Primeiro que tudo, faz-nos uma apresentação pessoal. Que idade tens, de onde vens e como se deu a tua introdução no bodyboard…

MS: Tenho 17 anos e nasci na Gala com vista para a praia onde comecei a surfar. Desde pequena sempre adorei o mar, passava horas na praia a brincar nas ondas. O meu tio e o meu primo faziam bodyboard e foram eles que sugeriram que experimentasse. Então fui com as minhas irmãs e duas amigas… e a partir da primeira onda nunca mais deixámos o bodyboard sendo que, passados 7 anos, ainda surfamos todas e às vezes juntas, cada uma no seu nível, mas todas com a mesma paixão pelo mar e pelo desporto. 

Sabes que a Figueira tem muita tradição e é mesmo uma grande escola no universo bodyboard. Quais dirias que são os valores mais importantes que te foram passados?

MS: O valor mais importante que me ensinaram foi divertir-me. Sair sempre da água com um sorriso na cara mesmo quando há um treino que corre menos bem ou o mar não está clássico. É a coisa que os treinadores nos dizem e ensinam desde o princípio – surfar para divertir-nos. Até quando vamos competir, o nosso grande objetivo é divertirmo-nos dentro de água e isso é algo muito importante, sobretudo para os mais novos que começam a iniciar-se na competição. Outro valor importante que nos passam é valorizar a nossa educação e, por isso, a escola está sempre em primeiro lugar.

“Sair sempre da água com um sorriso na cara mesmo quando há um treino que corre menos bem”

Que bodyboarders locais te influenciaram ao longo dos anos? 

MS: A Figueira tem muitos bodyboarders de excelência e de certeza que vê-los surfar e estar na água com eles desde pequena que me influenciou a querer surfar como eles. Podia referir imensos nomes e tenho um respeito enorme por todos eles, no entanto, vou mencionar apenas dois dos nomes que tiveram e continuam a ter um grande impacto. Um deles é o Miguel Adão, porque foi dos primeiros bodyboarders de topo com quem surfei e quando o via a surfar, dentro e fora de água, ficava (e continuo a ficar) impressionada com os seus desempenhos. É sempre muito bonito e perfeito e, por isso, ao vê-lo, influencia-me a ter um surf também bonito como o dele. 

O outro bodyboarder é o Porkito. Sempre que vejo os vídeos com ele a surfar ondas gigantes, a surfar na Nazaré e no Molhe Norte, penso que um dia também vou apanhar ondas dessas. Vê-lo dentro de água a voar também me inspira muito e faz-me querer voar como ele. 

Que tipo de ondas gostas de surfar?

MS: Gosto de surfar todo o tipo de ondas, mas as minhas preferidas são ondas cavadas. Desde que o mar esteja cavado, pequeno ou grande, fico logo feliz e se não houver crowd, não podia ser melhor. 

“A Figueira tem muitos bodyboarders de excelência que me influenciaram desde pequena”

És a atual campeã nacional sub-18 e antes disso já tinhas conquistado um título em sub-14. Fala-nos da importância desses títulos na tua vida e quão importantes são para o futuro?

MS: São muito importantes, porque sempre que olho para os troféus, lembro-me que eles são a prova de que o trabalho e a dedicação compensam e que mais cedo ou mais tarde os resultados irão aparecer. Também são a prova que dá para conciliar o desporto com os estudos e conseguir ter resultados de excelência em ambos. Estes títulos também são bastante importantes para o meu futuro, porque uso-os como motivação para treinar e evoluir cada vez mais.

Muitos atletas referem que a transição para o Open é muito difícil uma vez que o nível é muito elevado. Que tens a dizer sobre isso?

MS: A primeira vez que competi no Open foi em casa e, sinceramente, não correu nada bem. É muito diferente do que competir nos Esperanças, o nível é mais elevado e muito concentrado já que são menos competidoras. Senti que qualquer uma pode ganhar, mas também senti, depois da prova de Peniche, que tenho capacidades para chegar ao topo e continuar a ter bons resultados no Open.

“(…) os troféus são a prova de que o trabalho e a dedicação compensam”

Como foi competir nos Supertubos em condições francamente exigentes?

MS: Nunca tinha surfado nos Supertubos, mas, obviamente, que vi muitos vídeos e sabia que era uma onda com força, com muito potencial e, sobretudo, uma onda do tipo das que gosto de surfar. Competir numa onda tão boa, que está entre as melhores do país, com as melhores condições que já apanhei num campeonato, foi uma experiência incrível e, ao mesmo tempo, exigente com muita aprendizagem e superação. De certeza que me vou lembrar deste campeonato para sempre. 

Foi este o mar mais desafiante que já alguma vez apanhaste?

MS: Sim! Já apanhei mar grande e gosto de mar grande. No entanto, foi sempre num contexto relaxado e com um treinador, exatamente o oposto de uma competição em que tens um tempo limitado e estão a avaliar as ondas. Para além disso, não me lembro de algum dia em que os sets estivessem tão grandes e monstruosos e para ajudar ao mar estar grande e ter uma força incrível, havia ainda muito backwash e close outs que o tornavam mais assustador e mais confuso para escolher ondas boas. 

“(…) depois da prova de Peniche, senti que tenho capacidades para chegar ao topo e continuar a ter bons resultados”

Estavas preparada para uma etapa assim e à espera de conseguir um resultado tão expressivo? 

MS: Não estava nada à espera de conseguir um resultado tão bom. É claro que foi para isso que tenho treinado dentro e fora de água, muitas vezes sozinha, mas nunca me passou pela cabeça chegar à final, nem sequer sabia se conseguia passar um heat. O meu objetivo para este campeonato era conhecer uma onda nova e dar o meu melhor e a partir daí ver onde chegava. Felizmente, acabei por superá-lo e em muito. Até na final consegui superar as minhas expectativas. Depois de observar o mar, decidi que ia apenas apanhar duas ondas, boas ou más. Afinal acabei por apanhar três e uma delas foi a onda mais pontuada da final!

A teu ver, qual a melhor bodyboarder portuguesa neste momento? 

MS: Para mim, sempre foi e continua a ser a Joana Schenker. Desde pequena que é uma das minhas grandes referências femininas no bodyboard. Gosto muito do estilo dela a surfar, é muito bonito, delicado, perfeito e é a competidora mais experiente. Tenho muito a aprender com ela, a calma e sabedoria que ela transmite a competir é algo que a meu ver mais ninguém tem. Também tenho de mencionar a Filipa Broeiro, porque está a surfar com um nível altíssimo e os resultados que obteve este ano comprovam isso mesmo. 

“Não estava nada à espera de conseguir um resultado tão bom. (…) nunca me passou pela cabeça chegar à final”

Uma última questão: que objetivos para o futuro?

MS: Ainda tenho mais um ano de esperanças, por isso, quero voltar a ser campeã sub-18, sem nenhuma pressão porque a pressão é o maior inimigo. Gostava muito de competir no Sintra Pro no próximo ano se houvesse outra vez a categoria Júnior Feminino. Quanto ao Open não tenho muitas expectativas, vou dar o meu melhor, ter a melhor classificação possível e continuar a competir para me divertir. E, se alguma vez der para conquistar um título Open, espero estar pronta para o desafio. xxx

FOTOGRAFIA: @HELIO_ANTONIO / @CNBBCA2021