Para quem acompanha a História do bodyboard, sabe que Cláudia Ferrari foi a primeira campeã do Circuito Mundial de Bodyboard, em 1995. Vive no Havai desde a década de 90 e será um dos destaques do ArcelorMittal Wahine Bodyboarding Pro.

A antiga campeã estará presente pela primeira vez no evento, que animará o Espírito Santo, em setembro. É a última etapa feminina do Circuito Mundial em 2025, com a competição a decorrer entre os dias 11 e 21. O evento reúne as melhores atletas do mundo, na praia de Jacaraípe, na Serra (Brasil). Cláudia irá competir como convidada na categoria Master.

“Este ano estarei no Wahine a convite da Neymara. O bodyboarding é o amor da minha vida. Não vejo a hora de poder compartilhar esse amor tão grande com todas as pessoas desse evento, que eu venho acompanhando desde a primeira edição. Estou muito contente em poder agora juntar-me”, começa por afirmar, acrescentando que “Não vou ao Brasil desde 2018 e, para competir, a última vez foi em 2010, num campeonato internacional que convidaram todos os campeões mundiais brasileiros para participar”.

O Wahine Bodyboarding Pro foi idealizado e é organizado por Neymara Carvalho, 49 anos, pentacampeã mundial. “A Neymara, é uma das melhores atletas que o bodyboard já viu no Brasil e hoje, com o patrocínio da ArcelorMittal, ela continua a correr o Circuito Mundial, a elaborar e colocar em prática projetos maravilhosos, escolinha, mundial, ajudando com a evolução do desporto de uma maneira impressionante”, observa Cláudia.

“Essa geração, na verdade, de 1990 até 2000 e tanto, foi uma geração que o bodyboard nunca viu”

Antes de 1995, as campeãs mundiais eram definidas numa única prova, em Banzai Pipeline, no North Shore de Oahu. Nesse ano, foi criado o Circuito Mundial, com sete etapas pelo mundo e Cláudia acabou campeã. “Fui a primeira a vencer o Circuito e foi muito legal. Eu era super competitiva e com disciplina, determinação e muito treino, comemorei o título. Isso incentivou várias meninas, porque antes da minha vitória, tinham ali duas ou três que eram tão boas, que a gente achava que nunca íamos conseguir ganhar delas. E eu provei que tudo é possível“, explica.

Cláudia destaca o domínio que as brasileiras passaram a ter no circuito a partir de então. “Na época em que fui campeã mundial e durante muitos anos do circuito, décadas, as brasileiras eram as melhores do mundo de longe, as dez melhores. Tinha uma australiana, uma japonesa, que se aproximava. Faziam de vez em quando semifinal, mas todos os anos as campeãs mundiais eram brasileiras. O nível do bodyboard feminino do Brasil na década de 90 era impressionante”.

“Viemos para o Havaí para competir no primeiro campeonato em Pipeline, em 1990, e foi uma surpresa para as pessoas aqui. As ondas grandes que apanhámos, as performances que demonstrámos. Depois que as brasileiras começaram a vir, o mundo olhou para o bodyboard feminino com outros olhos. Essa geração, na verdade, de 1990 até 2000 e tanto, foi uma geração que o bodyboard nunca viu. Que época, essa. Eu me sinto muito honrada de poder ter feito parte disso”, assegura.

” (…) as bodyboarders brasileiras eram as melhores do mundo, de longe”

Apaixonada pelo Havai, ela foi para o North Shore pela primeira vez em 1988. “Era verão aqui, vim competir num campeonato feminino que se chamava Wahine, por sinal. Fui vice-campeã da minha categoria, mas era meio amador. Em 1990, foi meu primeiro inverno havaiano, que ia ter o primeiro campeonato feminino de bodyboard em Pipeline. Fui vice-campeã mundial. E aí, depois que cheguei no Havaí no inverno, nossa, adoro campo, adoro praia. Aqui no North Shore de Oahu, era campo com as melhores ondas do mundo. Eu quis ficar, vir para cá todo ano, queria poder estar o maior tempo possível e, aos pouquinhos, fui conquistando o sonho de ficar de vez”.

“Depois que as brasileiras começaram a vir [para o Havai], o mundo olhou para o bodyboard feminino com outros olhos”

Em 1996, depois que foi campeã mundial, Cláudia Ferrari recebeu o Green Card. A bodyboarder, que soma ainda títulos como pentacampeã paulista, campeã em Pipeline e americana em 2006 e no Op Pro, em 1988, em Florianópolis, explica o processo: “Os Estados Unidos não tinham uma atleta top no ranking do bodyboard e eu pedi para defender o país. E eles me deram o Green Card como atleta com habilidade extraordinária no desporto. Foi muito legal. E, depois de quatro ou cinco anos, recebi a cidadania americana. Tudo em função do bodyboard.”

“Fiz 60 anos em março. O meu dia-a-dia é trabalhar e surfar. E jogar Bowling, a minha nova paixão, o meu desporto de idosa. Adoro andar na praia, ver o pôr-do-sol, nadar em Waimea, uma praia que aqui no verão é a piscina natural mais linda do mundo. É isso, contato com a natureza. Amo muito”, termina por dizer Cláudia Ferrari que opera uma loja de souvenirs havaianos, a Aloha Gifts from Hawaii.


Fotografia Arquivo Pessoal / @gonzolenz / @akemisz / @vincecavataio