Estávamos em Peniche, em novembro do ano passado, a buzinadela final estava quase a soar e as coisas não jogavam a favor de Nuno Leitão. No entanto, uma última onda apanhada “à queima”, onde fez um slash com direito a lay back,  acabou por virar o resultado a seu favor, vencendo assim a etapa e alcançando também um dos seus sonhos de criança. Dezanove anos após a conquista do seu primeiro e único título português, na divisão Open, em 1997, “Batata” tornou-se oficialmente campeão nacional em Dropknee. Na praia alguém prontamente fez questão de frisar: fez-se justiça! 

Parabéns! Segundo título nacional conquistado após 19 anos. Que tens a dizer sobre isso?

Nuno Leitão: Não é fácil exteriorizar o que sinto, pois mais que uma vitória é acima de tudo uma realização pessoal. Após me ter tornado Campeão Nacional em ’97 e Vice em ’98, senti que teria de tomar algumas decisões a nível pessoal, ou seja, lutar por um sonho ou lutar pelo meu futuro profissional. No final de 1999, após algumas semanas de reflexão, senti que a minha aposta deveria recair sobre o meu percurso profissional e nele apostar todo o meu foco, colocando o bodyboard em segundo plano. Isto não significou afastar-me do mesmo, pois continuei a competir e a obter resultados nacionais e internacionais, apenas a partir dessa data, comecei a reduzir a minha presença em competições, pois o trabalho assim o exigiu. Apesar de tudo, mantive-me muitos anos na alta competição, mesmo trabalhando todos os dias de manhã à noite, com noitadas e fins de semana sempre agarrado a briefings, pois quem trabalha na área da publicidade, sabe bem do que falo. Por isso, quando me perguntas o que sinto, sinto-me orgulhoso na minha pessoa e no mundo que me envolve, onde o bodyboard me abraça por completo. 

A final em Peniche foi super disputada, entre ti e o “Laranja”, mas foste tu quem acabaste por levar a melhor. Dirias que esse foi o heat mais intenso do ano?

Não foi apenas a final que foi intensa para mim, mas antes toda a prova. Isto porque no dia anterior, tive um jogo de futebol da Despomar, onde já não jogava há anos. Essa irresponsabilidade, tornou-se sim um desafio intenso, pois fiquei com graves mazelas a nível muscular, de tal forma que a minha mulher teve de ajudar-me a deitar e a sair da cama para ir competir, tal eram as dores que tinha, que praticamente me impediam de mexer. Mas foram estas mesmas dores e a consciência de que estava perto de realizar o meu sonho, que me motivaram a lutar pela conquista deste titulo. 

Relativamente à vitória sobre o “Laranja”, não foi esta que me deixou feliz, senti-me feliz sim, por estar com ele numa final de um circuito nacional e estar ao lado de um dos ícones do Bodyboard português, de quem tenho o privilégio de ser amigo. O “Laranja” é um talento nato e uma pessoa por quem tenho um enorme respeito, pela nossa amizade e por ser um bodyboarder que aqui anda há muitos anos e que muito me acompanhou em diversas provas ao longo dos anos. 

“Foram estas mesmas dores e a consciência de que estava perto de realizar o meu sonho, que me motivaram a lutar pela conquista deste titulo”

De uma forma resumida, como dirias que correu o Nacional Open em 2016?Blog_Batata2

Foi bem sucedido graças ao empenho dos clubes que, mais uma vez, empenharam toda a sua energia logística, financeira e pessoal na realização destas etapas. Se não fossem estes mesmos e as pessoas que os constituem, muito dificilmente teríamos circuito este ano. Como tal, da minha parte, só me resta agradecer todo o seu empenho e carinho pelo nosso desporto, que de alguma forma ainda os continua a motivar.

Em que pontos específicos, assim mais simples e acessíveis, poderia este ser melhorado?

Acho que, acima de tudo, a postura por parte dos auto-designados atletas, deve ser profissional e não recair sobre o seu individualismo. Ser atleta é ser profissional e dedicado a todos os pontos que envolvem a sua conduta e representação. A sua presença nos campeonatos nacionais é importante, mesmo quando perdem. Muito sinceramente e na minha ótica, o Circuito Nacional continua a existir pela persistência de quem está atrás dos clubes, pois os atletas pouco abraçam a estrutura que os alberga. É necessária uma maior envolvência destes mesmos, juntos dos clubes que representam, bem como junto da FPS que neste momento exerce funções de gestão sobre o bodyboard. Se a falta de interesse existe no núcleo deste desporto, como poderão as marcas ter interesse numa comunidade que pouco retorno dá? É complicado o cenário atual, mas ao mesmo tempo este mesmo poderá diferir se cada um manifestar uma forma diferente de estar no desporto e aqui falo a nível competitivo.

Pontos positivos a assinalar do circuito 2016?

O empenho e profissionalismo dos clubes que, com escassos recursos, fazem acontecer. Um obrigado a todos que representam os mesmos.

O Dropknee, apesar de espetacular quando bem feito, não conta com muitos adeptos. Por que achas que isso sucede?

Sem dúvida, o DK é a vertente mais exigente do bodyboard, pois exige maior equilíbrio e controlo, para que as manobras sejam bem executadas. A meu ver a pouca adesão, deve-se ao facto de o Bodyboard estar hoje em dia muito canalizado para a competição. As novas gerações, são muito mais competitivas entre si e utilizam o desporto para se manifestarem e se posicionarem no seu meio, pelo que o Prone aqui ganha terreno, pois a pequena estrutura atual está focada nessa vertente. Mesmo existindo um Circuito Nacional de DK, podemos ver os poucos os que correm o Open, a dedicarem-se ao Dropknee, talvez porque este está conectado mais ao free surf. Talvez seja esse o motivo. Uma coisa, é certa, continuamos a ter mesmo fora da competição excelentes praticantes de DK, que continuam a elevar o nível do mesmo.

“O Circuito Nacional continua a existir pela persistência de quem está atrás dos clubes, pois os atletas pouco abraçam a estrutura que os alberga”

Ao nível da concorrência, quais dirias que são os melhores bodyboarders portugueses em Dropknee?

Primeiro, não sinto que exista concorrência, mas sim bodyboarders que comigo partilham o gosto pelo DK. Relativamente a nomes, é uma pergunta que pode originar respostas não justas, pois existem praticantes do DK que possa não conhecer e que partem a loiça toda. No entanto, existe um nome de um rider que adoraria ver no circuito, de seu nome… Matthew Davies, que vive em Lisboa e parte a loiça toda. 

Última questão. Será que a partir de agora vamos ver um Batata mais ativo nas competições? 

Deixo no ar essa questão. Apenas sei que em 2017 quero continuar a ser o melhor pai, marido, filho e amigo que consiga ser; continuar a estar rodeado de amigos dentro e fora de água e acima de tudo… ter muita saúde, que os “entas” já estão ai à porta. (risos)

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Fotografia em rodapé: Nuno Dinis