Após o mundial em Sintra, o Ricardo Saraiva, um dos leitores que nos segue, enviou-nos uma mensagem a sugerir uma entrevista com João Barciela, em virtude do ótimo desempenho que este teve na Praia Grande.

Sugerimos então algo ligeiramente diferente: que fosse ele próprio a entrevistar o atleta. O desafio acabou por ser aceite e nós apenas fizemos a ponte entre os dois. Eis então o resultado final dessa sinergia de vontades…

Conta-nos um pouco do teu percurso até esta prova. Como tens vivido e sentido as etapas do mundial em Sintra?
Comecei a fazer bodyboard em 1999 e desde então que sou um competir assíduo do mundial em Sintra. Comecei como espetador entusiasta, que vibrava só de estar perto de grandes nomes como Philip Rodrigues, Ben Holland, Ben Player, Jason Hazle, André Botha, Batata, Filipe Ochôa e outros tantos. Lembro-me perfeitamente de haver uma Vert Magazine com os atletas que participavam na prova e que tinha uma área dedicada aos autógrafos. Escusado será dizer que a tenho quase toda preenchida… Mais tarde, em 2004, participei pela primeira vez e desde então foram poucas as edições que falhei.

Qual a sensação de ganhar a alguns dos melhores bodyboarders do momento?
Nunca tinha chegado tão longe numa prova do mundial, portanto, nunca tinha tido a oportunidade de competir com os que considero os melhores do mundo. Foi uma experiência muito boa. Primeiro porque estava super motivado só de estar na água com eles. Depois, porque “pressão” não existe e a cada onda que apanhava não pensava em mais nada senão em superar a onda anterior. Só acreditei que tinha ganho a bateria com o Jeff Hubbard e do Jared Houston no dia seguinte. (risos)

O que foi para ti participar nesta etapa mundial e perder na meia-final por 0.10 pontos?
O heat com o Dave Hubbard foi brutal. Foi o competidor mais seguro e concentrado com quem competi até hoje. Acho que antes da bateria, durante o aquecimento, ele nunca olhou para mim. Esteve sempre na dele, muito tranquilo. Em relação ao heat propriamente dito, julgo que cometi dois erros que fizeram a diferença. Falhei uma manobra e escolhi uma onda errada quando tinha a prioridade. Perder por 0,10 pontos foi como se os juízes me tivessem dito que “estiveste quase lá, mas não podes cometer estes erros”.

Como te preparaste para esta prova?
Passei o verão com PureEmocean a dar aulas de bodyboard na Praia Grande e, por isso, sentia-me bem conectado com o mar. Quando fazia umas ondas tinha a supervisão do Zsolt [Lorincz] que estava lá sempre para me corrigir e aconselhar.

Sendo o campeão nacional em título como te sentes com a falta de apoios que não permitem defender o título de igual para igual com os outros bodyboarders? O que esperas que traga este desempenho a nível mediático e emocional?
Tenho a sorte de ter a NMD, Stealth e Zion, bem como o CRCQL, o Bana e a PureEmocean, que me apoiam a nível de material e que estou extremamente satisfeito. Agora a nível financeiro continuo sem ter nenhum apoio. Está etapa do mundial foi-me paga pelo meu irmão. É a realidade. Acho que depois disto e do “alarido” que já fiz, uma marca que invista em mim, já vai ter o retorno. Vai aparecer. O meu desempenho nesta prova serviu acima de tudo para provar que, se tivesse condições para treinar nas ondas que “eles” treinam, conseguiria disputar um lugar no top mundial.

Saindo com este resultado, como vês o resto da época em que te encontras em terceiro mesmo sem teres participado na etapa dos Açores?
Estou habituado a competir muito pela certa, arrisco pouco no nacional e esta prova do mundial veio dar-me uma confiança extra. Sinto-me confiante e cheio de vontade de entrar na água para defender o título.

Por fim, como vês a nova geração de bodyboarders portugueses e que futuro tem o bodyboard em Portugal?
Como sabem faço parte da família PureEmocean e, como os nossos atletas correm o Circuito Nacional de Esperanças, consigo estar bem por dentro do que se passa hoje em dia a nível nacional. No que toca a formação de novos atletas, estamos realmente bem entregues. É de louvar o trabalho feito por alguns treinadores que estão a conseguir transmitir não só o espirito de competição, mas acima de tudo a essência e o prazer de deslizar nas ondas. É impossível não falar do “jovem do momento”, Miguel Adão. Humilde, talentoso, persistente… Está a surfar muito. Em relação ao futuro do bodyboard em Portugal, isso já é mais complicado… mas continuo a acreditar que depois do espetáculo que vão ser as provas Prime algo vai acontecer!
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Texto: Ricardo SaraivaFotografia: Pedro Patrício | Facebook