A história foi trazida a público no final de dezembro pelo Honolulu Star Advertiser e mencionava que algumas empresas detidas por Mark Zuckerberg apresentaram oito queixas no Tribunal de Kauai.
Em causa, aparentemente, estão alguns nativos havaianos que vivem naquilo que o fundador do Facebook considera o seu “santuário de família”, de aproximadamente 700 acres, situado em Kauai. O bilionário, cuja fortuna está atualmente estimada em mais de 44 bilhões de dólares, pagou há cerca de dois anos a módica quantia de 100 milhões de dólares por uma vasta propriedade com vista para o mar.
No entanto, no terreno adquirido, vivem algumas famílias havaianas (conhecidas como kamaʻāina = filhos da terra) que, de acordo com a lei das ilhas do Pacífico, têm pleno direito a viver no “mais que tudo” retiro do geek das redes sociais. Os direitos desses nativos são na verdade ancestrais e datam de 1850, pode ler-se algures na peça.
Algumas das pessoas incluídas nos processos estão vivas, mas as empresas de Zuckerberg estão também a processar sete nativos já mortos. Como é habitual, as terras foram passando de geração em geração, e, em alguns casos, os descendentes detém os direitos da propriedade sem possuírem qualquer documentação oficial. Este facto é bastante comum pelas ilhas.
A árvore genealógica de cada família e as suas evidências terão um papel preponderante na decisão do tribunal, mas o que Mark Zuckerberg pretende com estas ações é fazer com que as famílias vendam as suas terras em hasta pública. Uma iniciativa onde, como se sabe, a melhor oferta ganha (e contra os incontáveis dólares do CEO do Facebook não há adversário que aguente!).
Entretanto, a semana passada, Zuckerberg fez uma espécie de retratação pública, num post do Facebook onde diz que o que pretende na realidade é que as pessoas recebam dinheiro “por algo que nem sequer sabiam ter direito”. O dono e senhor da maior rede social referiu ainda que “Ninguém vai ser forçado a sair da terra” e que tanto ele como a sua cara-metade, Priscilla Chan, amam o Havai, “queremos ser bons membros da comunidade e preservar o meio ambiente. Estamos ansiosos por trabalhar de perto com a comunidade local nos próximos anos.”
É certo que na sua nova propriedade o empresário norte-americano cedeu uma parcela de terra para que os agricultores da zona pudessem cultivar e apoiou diretamente também a construção de um centro de abrigo para albatrozes. No entanto, a comunidade está desconfiada e diz que nada disso muda o facto de ter construído um muro em torno da sua nova casa quando os havaianos desejam manter a terra nas suas mãos.
Esta aquisição, segundo alguns, relembra a submissão a que os nativos das ilhas foram sujeitos pelos colonizadores, que viram as suas terras serem ilegalmente apropriadas, e coloca de parte a tradição, a cultura e o legado do povo havaiano.
De um lado, os incontáveis dólares do CEO do Facebook. Do outro, o povo de Kauai. Quem vencerá?
