O pico da temporada de ondas da Polinésia Francesa tem lugar no verão e, ano após ano, apresenta ondas incríveis que só parecem estar ao alcance dos deuses. Teahupoo é o nome convencional do spot, aquele por que é conhecido a uma escala internacional, mas, na verdade, poderá não ser o mais correto.
Vamos por partes. Primeiro que tudo, pronuncia-se: Te-a-hu-po-o. Depois, já muito foi dito e escrito sobre a origem do seu nome, que significa “Fim da Estrada” (End of the Road), “Respeito pelo Rei”, “Respeito à Cabeça” ou até “Lugar de Crânios”, entre muitas outras.
Na verdade, “Po’o” significa “cabeça”. Já “Teahai” prende-se com o ato de “rapar” ou com algo muito semelhante a isso. Portanto, Teahupoo significa algo muito parecido a… “cabeça rapada” ou então “cabeça raspada”.
Tendo em consideração que foi precisamente isso – i.e., cabeças e corpos raspados – que já aconteceu a vários surfistas no decurso dos anos, facilmente podemos assumir que esse é, efetivamente, o nome mais apropriado.
No entanto, os locais não pensam da mesma forma.
De acordo com a História da Polinésia Francesa, Teahupoo é na realidade o nome do sítio, mas não o nome da onda (spot). O nome do recife por onde passam as águas da montanha é “Havae”. Já o nome do spot, a fantástica onda que nos foi dada a conhecer através de revistas, sites e vídeos, é “Pererure”. E, tal como todos os outros emblemáticos picos de surf, também tem a sua própria lenda.
Diz-se que o primeiro surfista a surfar em Pererure (para nós, Teahupoo) foi uma rapariga. Tratava-se de uma taitiana muito bonita e corajosa cujo nome era Vehiatua (em polinésio, “Culto de Deus”).
Vehiatua conseguiu surfar e controlar a potência das incríveis – e ao mesmo tempo perigosas – ondas de Pererure com elevada graça. E por ser um lugar tão perigoso acabou por lhe dar o nome de “Pererure”.
Quem não gostou da habilidade demonstrada foi o então chefe da aldeia de Teahupoo que, num ato de pura inveja, assassinou a jovem na esperança de absorver todo o seu talento na arte de correr as ondas de Pererure.
Muitas vezes tentou domar o spot, mas nunca foi capaz. Nunca conseguiu surfar as ondas de Pererure como era desejado e exigido a um líder. Mais tarde, ao descobrir-se o crime, o melhor amigo de Vehiatua acabou por fazer justiça com as próprias mãos, matando o chefe da aldeia.
É esta a lenda que Teahupoo, ou se preferirem Pererure, guarda no folcore local. Portanto, da próxima vez que assistires a um vídeo em Teahupoo, não te esqueças de esclarecer os teus amigos sobre o verdadeiro significado do spot.
Eles vão, seguramente, agradecer-te tão valiosa lição de História.
Maururu!