No passado dia 14 de novembro, nas ondas desafiantes e intensas dos Super, Teresa Padrela alcançou o seu primeiro título nacional open da carreira. Num exclusivo com o selo vert, lê agora como foi a temporada para esta bodyboarder da linha, mas também o que ambiciona para o futuro.


Primeiro que tudo, faz-nos uma apresentação pessoal. Que idade tens, de onde vens e como se deu a tua introdução no bodyboard…

TP: Sou a Teresa, faço 21 anos em dezembro e venho de Cascais. Comecei a fazer bodyboard aos 11 anos e desde aí apaixonei-me pelo desporto. A minha primeira experiência no bodyboard foi na escola Boogie Chicks, onde ainda permaneço enquanto atleta e treinadora. Passei por vários desportos até chegar ao bodyboard, mas este foi o que me cativou. Conheci a escola através de um amigo da minha mãe, que sugeriu que eu fosse experimentar uma coisa nova e só para raparigas. Experimentei, gostei e acabei por ficar. 

Quais dirias que são os valores mais importantes que te foram passados por Catarina Sousa e a Boogie Chicks?

TP: Como referi, conheço a Catarina e a escola já há dez anos. A minha relação com ela é de amiga, treinadora-atleta e colega. O que me dá mais gozo é nós as duas sabermos separar estas três personagens. Ser cada uma delas no tempo certo, quando é para ser eu atleta e ela a treinadora somos, quando é para ter o papel de amiga temos e quando estamos a trabalhar (dar aulas) somos colegas. Ao fim de dez anos, olho para trás e vejo que ela teve muita influência na pessoa que sou hoje em dia. Os valores que me foram passados passam pelo respeito pelo próximo, ser humilde e educada. 

“Passei por vários desportos até chegar ao bodyboard, mas este foi o que me cativou”

Que bodyboarders mais te influenciaram ao longo dos anos? 

TP: Um dos bodyboarders que mais me influenciou e que ainda hoje influência é o Manuel Centeno. Pela sua dedicação, pela sua paixão e claro pelo seu surf. 

Que tipo de ondas gostas de surfar?

TP: As ondas que mais gosto de surfar são as ondas tubulares de Carcavelos! A Praia onde aprendi a surfar.

Como foi competir nos Supertubos em condições francamente exigentes?

TP: Competir em Supertubos foi desafiante, mas ao mesmo tempo bom! No sábado estavam ondas muito boas, apanhar os Super assim, e só com mais três pessoas, é uma oportunidade única. No domingo foi bastante desafiante, as ondas estavam perfeitas, mas muito grandes e com backwash. Foi, talvez, o dia mais desafiante que já apanhei em competição. 

“[Domingo, nos Super] Foi, talvez, o dia mais desafiante que já apanhei em competição”

Quão difícil foi a vitória nesta última etapa? Ainda mais sabendo que foi só na última onda, a escassos segundos de tocar a buzina, que selaste a conquista do título…

TP: A vitória em si foi difícil, o mar estava com condições exigentes e difíceis, tínhamos que jogar com o timing dos sets. O mar foi definitivamente o maior adversário. Passei mais de metade do heat a tentar ir para fora, mas as ondas não paravam de entrar e a corrente no inside estava a puxar para a areia. Com o passar do tempo, muitas coisas vieram-me à cabeça, mas o que me fez não desistir foi lembrar-me daquilo para o qual tinha trabalhado o ano todo e que estava tao perto de acontecer. A vitória foi conquistada nos últimos segundos da bateria, o que prova que o heat só termina quando a buzina toca, até lá estava tudo em aberto e tudo poderia acontecer. 

Qual dirias que é a adversária mais difícil de bater? E porquê?

TP: Todas as adversárias têm bom nível de surf para conquistar uma final e até mesmo a primeira posição do ranking. Nunca olhei para uma adversária e achei que era “mais fácil” que outra. Temos o grande exemplo da Joana [Schenker], que é uma grande competidora, que tem vários anos de experiência e um grande nível de surf, como também temos a Mariana Silva que era, talvez, a competidora mais nova e que demonstrou o seu nível de surf e que alcançou a sua primeira final do Circuito Nacional Open com a nota mais alta da bateria. Isto demonstra que o bodyboard feminino está a alto nível e que as competições nos próximos anos irão acompanhar esta tendência. 

“(…) o bodyboard feminino está a alto nível e as competições nos próximos anos irão acompanhar esta tendência”

A vitória nos Esperanças, em 2017, e agora o título nacional Open, quão importantes são eles para o futuro?

TP: Estes dois títulos nacionais são ambos importantes. Em 2017 foi o primeiro e único título nacional esperanças que obtive, que deu motivação e serviu de demonstração de que, se trabalhar e acreditar, tudo é possível, as coisas acontecem. Após três anos, conquistei o meu primeiro título nacional open, que veio confirmar que se continuar a trabalhar e acreditar que é possível, acontece. Estes títulos trouxeram-me muita felicidade, claro, mas também muita motivação para continuar a competir e a evoluir. 

O clã Padrela está cada vez mais presente e forte no bodyboard, detendo já vários títulos e conquistas ao longo dos anos. Fala-nos um pouco do vosso dia-a-dia e de como se vão influenciando/motivando umas às outras. 

TP: Eu e as minhas três irmãs fazemos bodyboard. Eu e a Madalena surfamos e treinamos a maior parte das vezes juntas, estamos ambas na faculdade e conseguimos conciliar os nossos horários. É rara as vezes que eu vou e ela não vai e vice-versa. Aliás, quando isso acontece até é estranho. As duas mais novas (Mariana e Maria) ainda andam na escola e conciliar horários. Portanto, com elas é mais difícil. No verão fica tudo mais fácil e vamos muitas vezes todas surfar/treinar e, apesar de a Catarina dizer que é difícil gerir-nos, acaba sempre por ser bastante divertido e com muitas gargalhadas à mistura! 

“(…) o meu primeiro título nacional open veio confirmar que se continuar a trabalhar e acreditar que é possível, as coisas acontecem”

Uma última questão: que objetivos para o futuro?

TP: A nível académico, passa por acabar a faculdade no próximo ano letivo e começar a trabalhar mais tempo na escola Boogie Chicks, enquanto treinadora. A curto prazo desejo ter mais títulos nacionais e europeus, viajar pelo mundo para conhecer ondas novas e evoluir o meu surf e ainda fazer o circuito mundial. A longo prazo, quem sabe, um título mundial! xxx

Fotografia: @HELIO_ANTONIO / @CNBBCA2021 & Arquivo Pessoal