Nos últimos dias, o IPMA tem vindo a alertar para o aparecimento de caravelas-portuguesas em toda a costa. Eis alguns procedimentos e informação sobre o tema. 

A caravela-portuguesa (Physalia physalis) tem uma série de caraterísticas que a tornam um pouco invulgar, quando comparada com outros seres vivos marinhos. Para começar, não se trata de uma das muitas espécies de alforrecas que existem, como pode sugerir a sua aparência gelatinosa, transparente e com tentáculos, apesar de pertencer ao mesmo grande grupo de animais (os cnidários).

Aliás, uma caravela-portuguesa nem sequer é propriamente um animal, mas antes uma colónia de animais, que trabalha em conjunto para assegurar a sua sobrevivência. Assim, cada colónia alberga quatro tipos diferentes de estruturas tão especializadas nas suas funções principais de flutuabilidade, reprodução, captura e digestão de presas que, na prática, funciona como se fosse um único organismo.

Para além disso, a caravela-portuguesa, com os seus longos tentáculos, é conhecida pelos seus perigosos encontros com banhistas, que ocorrem, esporadicamente, na costa portuguesa. Semelhante à água-viva, a caravela-portuguesa tem um corpo oval, de cor azul, violeta ou vermelha e mede de 10 a 30 cm. É frequentemente encontrada em águas quentes e temperadas, podendo provocar queimaduras de até terceiro grau.

A principal recomendação para tratamento após contato, é seguir para um unidade de saúde mais próxima. Em todo o caso, eis alguns procedimentos base que são indicados internacionalmente para ajudar a aliviar a dor no local: 

  • Após a queimadura o tratamento visa aliviar os efeitos locais do veneno, com o intuito de evitar novas descargas de cnidocistos e controlar reações como choque anafilático. Nos casos mais graves, procura-se a estabilização e a manutenção das funções vitais;
  • Apesar de haver diferenças entre as espécies, há consenso sobre os analgésicos orais e tópicos, uso de água quente ou compressa de gelo para aliviar a dor, além de passar vinagre de uso doméstico na zona afetada para evitar que outros cnidocistos dos tentáculos das caravelas-portuguesas, que porventura tenham ficado presos na pele, continuem a descarregar as suas toxinas;
  • Nunca passar álcool ou água doce sobre a pele, assim como pressionar com compressa, pois isso aumenta a descarga dos cnidocistos que ainda não deram sinal. A área do contato deve ser lavada apenas com água do mar ou vinagre;
  • A caravela-portuguesa, mesmo quando é encontrada na areia, continua a ser capaz de gerar queimaduras; 
  • Entre os sintomas da queimadura estão: dor instantânea, edema intradérmico nas áreas que têm contato com os tentáculos. Algumas lesões podem evoluir para necrose em 24 horas, com consequentes cicatrizes. Há ainda os sintomas sistémicos, que são geralmente gastrointestinais (como dor abdominal, náuseas e vômitos) e/ou os musculares (espasmos e dor). O envenenamento pode gerar ainda dor de cabeça, sonolência, desmaio e perturbações cardiorespiratórias;
  • O tratamento mais eficaz nos primeiros socorros, com vista a aliviar a dor,  é a remoção de fragmentos de tentáculos que fiquem na vítima. Alguns estudos indicam que, após a remoção, deve-se fazer uma imersão da pele em água quente. A aplicação de compressas de gelo também são eficazes no alívio da dor;
  • É consensual que o vinagre, além de estancar a descarga dos cnidocistos, também proporciona alívio da dor. Outros medicamentos podem ser usados, mas carecem de prescrição médica. 

O aparecimento da caravela-portuguesa, em determinadas latitudes, é difícil de prever dada a volatilidade da sua distribuição, influenciada por fenómenos atmosféricos e oceânicos, mas sobretudo pelo vento. A caravela-portuguesa consegue viajar à boleia do vento porque tem uma vesícula cheia de gás que se assemelha a um balão flutuante, chamada pneumatóforo. É este “saco” que faz lembrar uma caravela e daí o nome do organismo. Com as mudanças climáticas, como a subida da temperatura e as alterações dos padrões dos ventos, o aparecimento da caravela-portuguesa em locais menos habituais está a tornar-se cada vez mais recorrente.