Há um nicho de consumidores de bodyboard que não quer saber bem das novidades que o mercado nos apresenta, pois o que procuram não são pranchas acabadinhas de sair do forno. O que procuram, na verdade, são pranchas e modelos com pelo menos três décadas de existência, considerados vintage e que a determinada altura das suas vidas alimentaram os seus sonhos. Falámos com o português Samuel Vaz Gomes, cuja coleção tem vindo a servir de referência e que fez o favor de desmistificar o fenómeno deste mercado.


Primeiro que tudo, faz-nos uma apresentação pessoal, qual a idade, de onde vens e no geral refere como entraste na cena do bodyboard…
SVG: Olá! Sou o Samuel, tenho 46 anos, sou de lisboa e entrei no bodyboard como muitos entraram nos anos 90. Era cool, mas muito caro. O meu primeiro contacto com o bodyboard foi em Carcavelos, com uma t-shirt vestida, munido de uns barbatos Simotal e uma prancha B-Max emprestada.

Depois apareceu um grupo de bodyboarders na Lagoa de Santo André que cresceu. Aí sim, comecei a fazer um pouco mais a sério. Na altura, tínhamos um amigo que era patrocinado e que competia no circuito nacional, era o Pedro Oom. Foi ele que deu o impulso lá à malta.

“O meu primeiro contacto com o bodyboard foi em Carcavelos, com uma t-shirt, uns barbatos Simotal e uma B-Max emprestada”

E quando começaste a pensar em colecionar pranchas de bodyboard antigas?
SVG: Foi de forma espontânea. Acho que o que me levou a colecionar foi a oportunidade de ter algumas tábuas que na altura não pude ter.

Qual o número de pranchas que tens neste momento e a que épocas remontam?
SVG: Possuo 52 pranchas, algumas remontam ao final dos anos 80 e outras ao princípio dos anos 90.

Qual o preço médio de um bodyboard vintage? Consegues fazer uma estimativa do valor da tua coleção?
SVG: O preço médio de uma prancha antiga ronda os 100/125 euros. No mercado estrangeiro a minha coleção ronda os 5 mil a 7 mil euros.

Qual a característica necessária e essencial para definir uma prancha como vintage?
SVG: Para mim tem de andar na casa dos anos 90.

De todas as pranchas que possuis, qual a que consideras ser a mais valiosa? E a que mais significado tem? 
SVG: A mais valiosa é seguramente a Wave Rebel Jack The Ripper. Porém, para mim, a que tem mais significado é a Wave Warrior Pro. Na altura, os meus pais não tinham posses e eu tive que trabalhar num restaurante da Costa de Caparica durante três meses para a poder comprar.

“Existem muitos (colecionadores) que não partilham o que têm”

Que conselhos deixarias a quem aspira ter uma coleção de bodyboards vintage?
SVG: Muita dedicação e paciência em esperar pelo preço certo. Nunca comprar por impulso.

No verão de 2020 Ben Severson ajudou a criar – ou a fortalecer – o mercado vintage ao alienar parte da sua coleção. Consideras que existe realmente um mercado mundial em torno das pranchas antigas?
SVG: Sim, o Ben ajudou a dar algum impulso a esse mercado, mas a verdade é que o interesse pelos bodyboards vintage já existia. E isso facilmente se justifica com o facto de termos norte-americanos, europeus e sul-africanos, entre outros, a fazerem propostas pelas nossas pranchas.

E será que se justifica os 11 mil dólares que foram pagos pela BZ Ben Signature 001?
SVG: De modo algum. No entanto, temos que considerar que, se eu tivesse posses, se calhar também iria querer a 001 do Ben Severson.

O relançamento de retro models, como o Eppo fez recentemente em parceria com a NMD tendo como base o seu modelo na Rheopaipo de ’94; chega a entrar na equação dos colecionadores?
SVG: Para mim, não.

Quantos colecionadores de pranchas de bodyboard dirias que existem à escala mundial? E entre todos quem tem a coleção mais valiosa?
SVG: Há bastantes com coleções valiosas, como o Adrian Piggot, David Fleetwood, Stephen Herbst, entre outros. Existem muitos que não partilham o que têm.

“(…) o mercado de bodyboards vintage já existe há algum tempo”

Que outros portugueses detêm coleções igualmente poderosas?
SVG: O Sérgio Simões e o João Vinagre também detêm umas tábuas interessantes.

Qual foi o máximo que já pagaste por uma prancha?
SVG: Já dei 400 euros por impulso, sem pensar. Mas agora já não o faria.

Última questão. Que modelo falta na tua coleção?
SVG: Faltam ainda várias pranchas, a Keith Sasaki, a Ben Severson, etc. xxx

* Todas as imagens de arquivo pessoal