Phil Gallagher é um artista na verdadeira extensão que o termo acarreta. Conhecido no mundo do bodyboard como fotógrafo, o australiano de 35 anos fundou o jornal fotográfico Le Boogie em 2010 e gere agora uma publicadora que se estende aos domínios da música e dos vídeos.

Hoje a Le Boogie é aquilo que Gallagher descreve como uma “art house“: um ninho de artes e artistas ligados à escrita, fotografia, vídeo e música que se dedicam a produções pessoais que nascem de uma fervorosamente paixão pelas coisas que os fazem sentir vivos: a música pela música, os filmes pelos filmes, o bodyboard pelo bodyboard.

Pouco mais de uma semana após o lançamento de SPLIT, a última produção videógrafica da Le Boogie, Gallagher reflete sobre a difusão irracional de vídeos de bodyboard para a web, o futuro da publicação e o bodyboard hoje e amanhã.

 

O que é exatamente o SPLIT?

Quatro atletas juntaram-se a outros tantos cinematógrafos para criar um poderoso filme de 30 minutos. Cada um concebeu as suas secções e nós apenas juntámos tudo e lançámos o material.

Com surgiu o projeto?

Há demasiados conteúdos para a web que são produzidos sem propósito algum que não seja o sucesso durante os dois-três dias em que andam por aí e que depois caem no esquecimento. Nós tentámos que o pessoal trabalhasse em algo que os fizesse sentir motivados, que fosse um divertido desafio, em que, no fundo, se digladiam uns contra os outros.

Que impacto procuras com o SPLIT?

Trazer algum sentido de divertimento e competitividade às produções bodyboarders. Procurar que as pessoas deixem de debitar vídeos irreflectidos na web apenas para receberem likes e cliques.

Que desafios te surgiram ao longo desta produção?

Quatro equipas diferentes significa quatro conjuntos de problemas diferentes e, com prazos apertados, as coisas aqueceram bastante já para o final, no toca a reunir todos os trabalhos e manter toda a gente satisfeita.

Nos últimos meses lançaste alguns filmes sob o nome Le Boogie e estás agora a promover um outro, o The 8. Além disso, também tornaste a Le Boogie numa editora de música. Porquê esta súbita mudança de rumo?

Pura e simplesmente não conseguimos vender revistas. Atualmente temos uma vasta base de fãs e uma consistente base de dados e podemos ajudar as pessoas a tornar os seus projetos rentáveis. A música é apenas por divertimento, nada demasiado sério. De qualquer modo, o facto de termos a tal base de fãs permitiu que as pessoas ouvissem novos sons de amigos nossos e isso faz-nos sentir bem. É uma forma de ajudarmos uns amigos e de nos mantermos ocupados.

Que tipo de música promovem?

Todos os tipos, desde pop, rock, metal, electro e outros géneros que, em boa verdade, não sei como os definir. Todo este pessoal adora a música e tem empregos diários e só procura fazer música pela música e nós tentamos que as pessoas vão aos seus espectáculos.

Estás cansado da imprensa escrita?

Fazer uma revista é o mesmo que tirar uma fotografia analógica: na realidade estás a fazer tudo isto para ti e nenhum cliente vai pagar-te pelo teu esforço extra por uma fotografia não-digital ou por queres exibir conteúdos de bodyboard de excelência. A internet é fantástica, trouxe coisas muito boas e utilizo-la diariamente. No entanto, com tanto conteúdo espalhado, independentemente da qualidade, porque é que as pessoas hão-de pagar para ver mais?

Ainda vamos ter mais revistas Le Boogie?

Temos uma edição anual de fotografia planeada para sair no final do ano e talvez seja o fim, quem sabe. Se vender e as pessoas comprarem e conseguirmos cobrir os custos, ficamos super extasiados, embora o objetivo do negócio não seja apenas cobrir os custos de produção.

Que pretendes atingir no bodyboard com todos estes projetos?

Qualidade com um toque humano.

O bodyboard está, neste momento, numa encruzilhada: não tem uma cultura comercial sustentável nem uma contra-cultura. Para onde vai o bodyboard? O que será do desporto nos próximos anos?

Não vou mentir, estamos numa fase negra. Se amas o bodyboard, nunca vais parar, mas de um ponto de vista empresarial creio que é altura de nos colocarmos em low-profile e simplesmente cortar no que está a mais. Parece-me que há falta de dinheiro ou que simplesmente não o querem investir em projetos e publicidade. Compreendo isso perfeitamente, acredita. Se não tens dinheiro, não vais gastar. Talvez as pessoas já não façam bodyboard. É alucinante, vejo tanta gente a surfar e a ostentar os melhores e mais recentes materiais, mas talvez continue a ser a falta de dinheiro aquilo que mais nos atinge.

Em que cultura se insere a Le Boogie?

Odeio usar este termo, mas lá terá de ser à falta de melhor: é uma art house. Nós tentamos dar um lado qualitativo às coisas e não nos preocuparmos se lucramos e rebentamos o dinheiro numa festa – leia-se, uma tour ou apresentação de um filme – se as pessoas gostam disso. Tendemos a dizer as coisas como são e não açucarar a merda toda que se está a passar e que nos afeta. Honestamente, nós somos assim. Se jogássemos pelas regras e disséssemos que todos ripavam e que estes novos produtos são espetaculares e que toda a indústria é perfeita, estaríamos a mentir na nossa própria cara e a lançar uma carrada de tretas numa publicação de merda. Qualquer pessoa com um smartphone pode ser um blogger e fazer o que fazemos, mas terão eles os tomates para atrair as pessoas e a confiança da malta na indústria?

Que outros projetos tens em agenda para um futuro próximo?

O Photo Annual é o principal neste momento. Tínhamos esperança em fazer nova rodagem do Passing Through, mas tivemos de adiar esses planos devido à falta de apoios. Continuar a fotografar e filmar e tentar que o site continue a aguentar. Na verdade, apenas viver um dia de cada vez.


 

Website: Le Boogie | SPLIT está disponível em versão digital por $5 | Fotografias Perdidas: PhilTheDistraction