Olá a todos! Confesso que nem sei por onde começar a descrever esta surfada que vai ficar para sempre nas nossas memórias. Onde?!? Bem! Esta onda fica na Foz do Lizandro, praia normalmente conhecida por ondas moles e pouco cavadas!

Então de onde apareceu esta onda?

A onda é conhecida como “a esquerda do rio” e é quase uma lenda, durante anos deixou de funcionar. No entanto, a praia da Foz ficou quase sem metade do areal devido às tempestades dos últimos anos e este ano a onda voltou a dar sinal. Encostada às rochas fica protegida do vento sul e forma um banco de areia perfeito e mágico, como eu já não apanhava desde os anos 90! 

Normalmente, a onda apenas funciona durante três a cinco dias após abertura da foz, mas o rio vai perdendo a força, o banco de areia vai desaparecendo e volta a ser uma onda fraca e mole, provavelmente um close out

Antes de o rio abrir, ninguém tinha esperança de apanhar ondas, em lado nenhum! Swell de 2 metros com vento de sul na Ericeira. No entanto, a magia voltou acontecer! A corrente ficou fortíssima e as ondas extremamente tubulares com um glass estranho provocado pela corrente do rio. A corrente estava tão forte que dava para fazer “bodyriver”, onde o rio cruzava o mar as ondas eram duplas, triplas, x 2 x3 super mutantes, sempre a enrolar no mesmo sítio com um cenário extremamente assustador. Por vezes, até parecia que as ondas andavam para trás em tubo, tal era a força da corrente, os tubos rolavam abaixo do nível do mar! Lindo! Duplamente lindo!

Também havia muitas canas, troncos e outros detritos, passavam árvores inteiras com mais de 5 metros com muitos ramos, mas fechámos os olhos ao perigo e fomos a correr lá para dentro! 

– Quer dizer! 

– Estão a ir para onde? 

– Só eu estou a ver aquilo!? 

– Alguém quer vir brincar comigo?!

Quando dei por mim estava a ir para lá sozinho e as pessoas que tinham descido comigo estavam a desmarcar para uma direita imaginária, enquanto me faziam aquele olhar de “o gajo é maluco”! 

Felizmente, o Mota, o Plácido e o Paulo Batista foram ter comigo e apanhámos as melhores ondas da nossa vida, mesmo ao nosso lado alguns dos melhores surfistas do mundo a ver um quarteto de bodyboarders em delírio total! Provavelmente, das melhores surfadas dos meus quase 30 anos de bodyboard. Nessa noite ninguém dormiu só de pensar que no dia seguinte ia estar praticamente igual e quase sem vento… para além de alguma adrenalina que ainda circulava no sangue! 

Logo pela manhã, o segundo dia já não tinha nada a ver com o primeiro, mas ninguém se queixou e ficou conhecido como a surfada de chocolate. Mesmo tamanho, mas metade da massa de água, já havia surfistas no pico, ainda com muitas dificuldades em dropar, mas bem mais soft! O Levi também se juntou à festa, mas o homem do dia foi mesmo o fotógrafo. Apenas conseguia estar no mesmo sítio cinco segundos devido à corrente ainda forte, levou com lips x2 e x3 que o devem ter deixado bem colado ao fundo, bateu-lhe um tronco que fez um “galo” e ainda nos surpreendeu com estas fotos fantásticas! Não vou falar muito mais do segundo dia, porque as imagens falam por si… 

Parabéns e obrigado Miguel. Obrigado também aos leitores e à Vert pela publicação do artigo.

Boas ondas para todos, de preferência mutantes :)  


Texto: Rui Bonacho | Fotografia: Miguel Silva Infinity Pic (água) & Fausto Julião (terra)