Matheus Bastos, nascido, criado e a residir no Morro Pavão-Pavãozinho, uma favela da zona sul do Rio de Janeiro, é uma das grandes revelações do bodyboard brasileiro e também tem vindo a dar que falar ao nível mundial. Foi o grande vencedor da etapa vianense do Pro Junior World Tour do ano passado, tendo terminado o circuito mundial na 5.ª posição. Este ano, já a competir na categoria seniores, tenta ganhar experiência, mesmo com dificuldades financeiras, pois não tem patrocínios ou apoios. De regresso a Viana do Castelo, espera “dar trabalho para os profissionais e quem sabe surpreender na etapa”.
Entrevista cedida por Surf Clube de Viana/Shark News
Quando e como surgiu a tua ligação ao bodyboard?
Moro muito perto da praia e sempre via meus amigos surfando. Com o tempo, fui gostando e me interessando em surfar. O Posto 5 é um dos locais mais tradicionais para o bodyboard no Brasil. Está ligado a nomes como Guilherme Tâmega e Francirley Ferreira (primeiro atleta da favela profissional) e isso sempre me influenciou a querer surfar também. Com nove anos de idade comecei no projeto Escola Guilherme Tâmega no Posto 5 da praia de Copacabana. E aí iniciei-me no desporto e nas competições.
O que sentes quando fazes bodyboard?
Me sinto livre, feliz, esqueço dos problemas e das dificuldades que enfrento na vida. O bodyboard me tirou da rua e colocou no caminho do bem. O desporto me salvou.
“[Quando faço bodyboard] Me sinto livre, feliz, esqueço dos problemas e das dificuldades que enfrento na vida”
Como é participar em circuitos mundiais morando numa favela? Quais são os principais desafios que esta situação te coloca?
O dinheiro e a falta de estrutura são os principais problemas. Vontade de vencer, de provar que somos iguais ou até melhores que os outros não falta. É muito frustrante ter vontade de querer mostrar o melhor mas ser parado por questões financeiras.
Quais têm sido os apoios mais importantes que tens tido ao longo do teu percurso no bodyboard?
A minha base no desporto foi sempre os professores do projeto Escola Guilherme Tâmega, Diego Roberto, Alexandre Oliva e Francirley Ferreira. Eles é que me ensinaram o certo e o errado, deram apoio nas viagens, nos treinamentos… São minha segunda família.
“Enquanto eu tiver dentro de mim essa chama de querer competir e vencer vou perseguir esse sonho”
Como está a correr este ano de estreia na Men’s Division?
É um grande salto de nível. Sinto que preciso viajar e ganhar mais experiência em outras ondas, outros tipos de mares. Mas isso só será possível com patrocínio e apoios, que infelizmente não possuo. Vou tentando competir o que posso e ganhando experiência.
Quais são os teus objetivos para 2017?
Quero competir todas as etapas de Portugal e encerrar o circuito com um bom resultado.
Quais são os teus objetivos para a etapa de Viana?
Adorei a cidade, as ondas, as pessoas. Fui muito bem recebido. Quero dar trabalho para os profissionais e quem sabe surpreender na etapa.
“O bodyboard é um desporto apaixonante. Ele me tirou das ruas, do caminho ruim e me colocou no caminho certo”
Quais são os teus objetivos a longo prazo?
A longo prazo, quero continuar surfando e competindo, pois amo a competição. Enquanto eu tiver dentro de mim essa chama de querer competir e vencer vou perseguir esse sonho. Claro que fica bem difícil de me planejar sem condições financeiras apropriadas. Mas eu nunca desisti e não será agora que farei isso.
Que mensagem gostarias de deixar?
O bodyboard é um desporto apaixonante. Ele me tirou das ruas, do caminho ruim e me colocou no caminho certo. Pude conhecer países, fazer novas amizades e surfar ondas incríveis. Se eu consegui você também consegue. Não deixe de batalhar pelos seus sonhos. Não desista! Pois eu, não desisti.
Fotografia: Bárbara Becker (invert), João Araújo (retrato) & Oswaldo Siqueira (tubo)