Muito se tem falado sobre a atitude dos bodyboarders e da essência deste desporto que tanto tende a ser menosprezado e desvalorizado. Esta semana, surgiu nas redes sociais o texto do surfista João “Flecha” Meneses que se tornou viral na nossa comunidade pela assertividade das suas sábias palavras. Até então, desconhecia totalmente este “surfista com alma de bodyboarder” tendo subido a pique no meu respeito e consideração. Este texto, veio não só vincar uma ideologia que pensava ser partilhada por poucos como também injetar uma dose extra de motivação para encarar com mais ‘pica’ a tal essência do bodyboard.
Nos últimos tempos, eu e o meus amigos, temos procurado sair de Leça em busca de novas ondas, não só pelo crowd que se tem instalado, mas também pela aventura, pela busca de novas ondas, pela sensação do desconhecido e por todas aquelas coisas que já sabemo. Ontem à tarde, como é costume, começámos com os planos: “Vamos? Não Vamos? É noite de Halloween, ‘bora mas é sair! Siga jogar póquer?”

O interesse em ir dropá-las não era marcante, mas estava presente, como sempre. Por volta da meia-noite o Francisco Raio liga-me: “6:30 na bomba, ‘bora?” BORA! Foi música para os meus ouvidos. O restante texto vai reportar esta sessão numa onda mutante de fundo de pedra pouco conhecida no norte. Para muitos esta aventura pode parecer de algum exagero e um tanto ou quanto sobrevalorizada, mas, para nós, os quatro humildes bodyboarders desprovidos de grande técnica, foi algo com muito significado. Algo que aos nossos olhos apenas riders como Ricardo Faustino e Luís “Porkito” Pereia, entre outros, alcançam. Foi a pura superação. Às 7h da manhã, eu, Francisco Raio, Gonçalo Machado e o grande Telmo Moranguinho, estávamos a iniciar, não a noite, mas antes a nossa manhã de Halloween. Mal sabíamos que o “monstro” nos ia presentear com tantas doçuras e travessuras. Chegámos ao local com a festa no início. Bem, e estava de gala!

[OUTSIDE] Frenéticos, começamos a vestir-nos e o nervoso miudinho instalou-se. Descemos a encosta, fizemos meia dúzia de alongamentos e, num período entre os sets, sem hesitar, BORA! Remámos a todo gás evitando a zona de impacto entre as rochas. Já não havia volta a dar, o compromisso estava feito. O nervoso miudinho tinha desaparecido e, em seu lugar, surgiu a concentração que nos manteve alerta perante as travessuras que o “monstro” estava pronto a pregar. A onda é super imprevisível e muito traiçoeira. A típica mutante. Foi a minha segunda vez neste local, eles estavam a estrear-se. Começámos com uma abordagem fora do pico para perceber as condições. Os sets começaram a entrar e não demorou para nos chegarmos ao pico e começarmos a dropar na zona mais crítica. Entre drops aéreos, tubos e chapeladas, foi uma manhã que não trocaríamos pela mais americana noite de Halloween.

[INSIDE] A sessão acabou com o “monstro” a mostrar as suas garras, pregando-nos a pior partida de Halloween. Entrou o maior set da manhã quando eu e o Machado estávamos no inside e fomos completamente varridos por bombas de 2,5m. O Raio estava a salvo no outside a delirar com as bestas que quebravam. Já o Telmo, de GoPro e sem prancha, levou com o lip da maior onda da sessão em plena zona de impacto e ainda com o restante set. Fomos em seu auxílio muito rapidamente e deu para perceber que tinha apanhado a coça da vida dele. Mas estava tudo bem, foi a galhofa total. No fim, já cá fora e em conversa, chegamos à conclusão que é mesmo isto que nos move, é isto que nos faz sentir apaixonados por um desporto fora de moda, é isto que nos faz ficar em casa a dormir em vez de ir festejar a noite de Halloween. Nunca estivemos tão de acordo com o grande João “Flecha” ao dizer que o “Bodyboard é um desporto que encarna toda a magia do Mar.”


Texto: Gonçalo Dias | Fotografia: Telmo Moranguinho | Facebook