Nuno Matos é licenciado em Desporto pela Universidade de Coimbra e doutorado e Mestre em Ciência do Desporto (ambos tirados em Inglaterra), no tema do Sobretreino e Burnout em Atletas. Após o doutoramento, fez uma formação de coaching de 2 anos na Integral Coaching do Canadá, vindo a aplicar todo o seu conhecimento de ciência, experiência pessoal e coaching no trabalho com atletas. 

Durante 10 anos viveu em Inglaterra, mas em 2013 regressou a Portugal e desde então tem vindo a trabalhar como full-time coach com atletas, pais de atletas e treinadores, sendo que o maior foco e frequência de programas de coaching é com atletas. Alguns deles, refira-se, são nomes bem conhecidos do surf e bodyboard. 

O passado desportivo do Nuno é muito relevante, pois nadou a nível internacional, foi competidor de Jiu-Jitsu Brasileiro, fez Capoeira, faz Surf, corre maratonas e pratica regularmente desporto.

Esta é uma boa oportunidade para ficar a saber um pouco mais sobre a alta performance, o stress a que os atletas estão expostos e a forma como os mesmos, junto com as expectativas da nossa sociedade e cultura, são afetados negativamente. Por último, e mais relevante ainda, como trabalham a sua humanidade e saúde mental.


Que tipo de trabalho desenvolve o mental coaching num atleta de alta performance?

Esta pergunta é muito pertinente, mas de resposta complexa. Vou dar o meu melhor! A abordagem comum, e com a qual estou familiarizado, tanto nos psicólogos do desporto, como em mental coaches (Susana Torres incluída), é de abordar o desafio do atleta essencialmente sob o ponto de vista da performance, o que deixa grande parte, senão toda a componente “humana” e da vida pessoal do atleta negligenciada ­– esta última componente influencia incrivelmente a performance e toda a relação que o atleta desenvolve com o desporto que pratica. Ao mesmo tempo, as psicotecnologias que noto estarem em prática são, na minha opinião, parciais, pois carecem da compreensão e inclusão de dimensões humanas, que estão continuamente também elas a afetar a performance do atleta. O resultado, normalmente, é uma transformação cognitiva no atleta (i.e., do foro mental), mas não necessariamente uma transformação sustentável e com o embodiment de uma nova maneira de ser. Uma coisa é perceber o que devo mudar e o porquê, outra é conseguir manter um novo comportamento, debaixo de pressão. 

“(…) a metodologia trabalha tanto com a performance desportiva e os problemas que trouxeram o atleta ao coaching, como também trabalha com a vida pessoal do atleta”

A minha abordagem tenta ser o mais integral possível, no sentido de incluir as dimensões principais do ser humano (atleta!), como análise na abordagem ao desafio do mesmo, ao mesmo tempo que, tanto a mente como “o corpo” do atleta, são incluídas na abordagem. A metodologia funciona através de práticas, que são dadas ao atleta a cada sessão, e que levam ao fortalecimento de capacidades ou desenvolvimento de novas competências (ou “músculos internos”), que desenvolvem uma nova maneira de ser (sustentável) no atleta. A transformação vai muito além da alteração cognitiva do atleta. Neste sentido, a metodologia trabalha tanto com a performance desportiva e os problemas que trouxeram o atleta ao coaching, como também trabalha com a vida pessoal do atleta, as relações, a escola/trabalho, tipologias de personalidade, estados alterados de consciência, linhas de inteligência (e não só a cognitiva ou emocional), género feminino e masculino, entre outras. É algo complexo, mas necessário, já que o ser humano também é complexo.

Uma vez que se lida com atletas de norte a sul e do exterior, não existe a necessidade de estar presente para usufruir do coaching. Como funciona?

Boa pergunta. Eu trabalho há 10 anos online. Tenho casos excecionais (atletas muito novos, que me queiram conhecer pessoalmente, ou mesmo quando os pais necessitem dessa segurança), em que me disponibilizo para nos encontrarmos pessoalmente antes de se iniciar o programa de coaching, ou o atleta vem a minha casa fazer a primeira sessão. A partir daí, as sessões passam a online. Não por imposição minha, mas porque o grau de confiança e segurança que é gerado na primeira sessão é consistentemente elevado, e leva o atleta a perceber que pode experimentar o online a partir dali. Na sessão seguinte o atleta percebe que não há qualquer diferença no tipo de eficiência e qualidade do trabalho desenvolvido online, comparando com trabalho feito em presença. Na verdade, a única coisa que o online não substitui (pelo menos até aqui!) é, na minha opinião, o toque físico – o aperto de mão, abraço, consolo. Se me perguntam o que prefiro, em presença certamente! Contudo, o facto de ser online permite que chegue a muito mais gente, com um trabalho tão eficiente como se fosse feito presencialmente. 

Todos os meus programas de coaching são online, e não trabalho por menos de 3 meses, a não ser em casos raros de atletas que estejam mais céticos e queiram “provar” o meu coaching, onde têm a oportunidade de fazer um programa “template” de dois meses apenas. Em qualquer dos programas que tenho, as sessões são de uma hora e têm sempre uma nova prática que o atleta vai desenvolver ao longo de duas semanas, seguindo para uma nova prática na sessão seguinte. E é assim que o atleta vai desenvolvendo capacidades, que vão originar uma nova maneira de ser, que por outras palavras significa que o atleta ultrapassou o desafio que o trouxe ao coaching.

“O programa de coaching em si, é super específico e adaptado ao cliente e ao tópico de trabalho”

[Miguel Adão]

Para cada atleta desenha-se uma forma de atuar ou, pelo menos numa fase primária, existe um conjunto de diretrizes que são comuns e aplicadas em todos os casos?

A única coisa que existe em comum a qualquer atleta que “se senta” comigo, é a metodologia. Aqui uso sempre a estrutura da metodologia integral de coaching, que me informa sobre as várias dimensões interiores e exteriores do cliente, assim como do seu nível de capacidade. A partir daqui, construo o programa de coaching, com o tópico de trabalho, uma metáfora que descreve a maneira de ser atual do cliente, e outra metáfora, que descreve uma nova maneira de ser do cliente, que inspira, traduz e manifesta o sucesso no seu tópico de trabalho. 

Aquilo que posso dizer que tenho com mais frequência em termos de tópicos de trabalho (desafios que os atletas atravessam), é receber atletas que sofrem de ansiedade, nervos de competição, problemas relacionais, dificuldade para gerir a pressão e estados emocionais desconfortáveis. Nestes tópicos há, certamente, uma transversalidade. O programa de coaching em si, é super específico e adaptado ao cliente e ao tópico de trabalho. Por outras palavras, com esta metodologia não acontecem aqueles casos de “one size fits all”.

“O sucesso tem altos e baixos e os atletas devem compreender que esta é a essência do desporto”

[Ricardo Rosmaninho]

O que se faz quando um atleta entra em burnout e numa espiral negativa? Como se dá a volta?

É complicado e complexo ao mesmo tempo. O que se deve fazer é primeiro perceber muito bem “onde é que o atleta está” no seu desafio, que receios tem, que crenças fazem parte desses receios, aquilo que ele tem tendência a fazer/dizer/reagir, as cargas físicas a que está sujeito e a capacidade de recuperação das mesmas, a energia que “traz consigo”, a capacidade psicológica de recuperação, as relações importantes e que o influenciam no seu dia-a-dia, e a estrutura ou “sistema” no qual está inserido. Esta primeira abordagem permite perceber o atleta no stress contextual em que se vê envolvido. A partir daqui, passa a ser importante explorar mais profundamente a identidade do atleta e o grau de apego do atleta ao desporto ou aos resultados, e que provavelmente está a ser um dos motores principais para o desenvolvimento do estado de burnout. À medida que o atleta vai desenvolvendo mais consciência sobre o seu eu e as raízes do seu stress e, em paralelo, desenvolvendo capacidades específicas que necessita, uma nova maneira de ser começa a emergir, que lhe permite libertar-se do que não é importante no seu desporto e “que está a mais”, e progressivamente ultrapassando o estado de burnout.

Não se trata de dizer ao atleta “estás a pensar mal. Pensa antes assim…”. Todo o ser humano é dotado de uma sabedoria interior, à qual vai acedendo ao longo do programa (e que eu, naturalmente, vou facilitando), o que vai moldando toda a sua transformação e desenvolvimento.

No caso de um atleta muito vitorioso e com uma carreira extensa, também se trabalha a manutenção do sucesso?

A minha abordagem “na manutenção do sucesso” inclina-se mais sobre a relação que o atleta desenvolve com a sua performance, o seu desporto, e o significado que isso tem para ele/ela. O sucesso tem altos e baixos e os atletas devem compreender que esta é a essência do desporto. No fundo, da vida. Contrariar uma essência, não só é muito cansativo e frustrante, como também escasso em resultados.

Contudo, este exercício não deve ser apenas racional, para que o atleta chegue a um “ah ah moment”. Tem que ser mais do que isso. Tem que ser através de práticas que o atleta começa a perceber mais profundamente o impacto que a falta de sucesso tem sobre a perceção que ele tem dele próprio e as consequências que a autodesvalorização e baixa autoestima têm sobre ele e sobre a sua vida, tanto no desporto como fora.

Os atletas devem procurar outras formas de entender o sucesso, pois só há uma medalha para o 1.º e todos a querem conquistar. Ora, naturalmente, não saber lidar com derrota ou maus resultados, leva os atletas a desenvolverem uma relação com a derrota (e com a vitória!), com o desporto, e com eles mesmos no desporto, que não considero saudável, e que potencia o desenvolvimento do sobretreino e do burnout.  

“Na Psicologia do Desporto a relação atleta-pai-treinador é designada como “golden triangle”. A suposição é que assegurando “um triângulo saudável”, o atleta poderá crescer saudavelmente no desporto”

[Afonso Alexandre]

A pressão/expectativa familiar e a presença constante dos pais (que por vezes assumem papel de treinadores de bancada) é uma barreira à evolução?

Completamente. No meu PhD falei muito sobre o impacto que o círculo relacional em que o atleta está inserido (pais, treinadores, colegas de treino, rivais, etc.) tem sobre o mesmo, nomeadamente, como ponte fortemente influenciadora sobre a forma como o atleta perceciona o desporto e se perceciona a ele próprio, no desporto. 

Há muitos atletas que performam com a mente (mesmo que inconscientemente) “presa” no pai ou na mãe. Isto porque eles estão a nadar, a correr, ou a surfar para que o pai fique contente “e goste de mim (…) e assim eu posso sentir-me como alguém com valor”. Isto é um caso clássico porque os filhos, naturalmente gostam de agradar aos pais. Não há nada de errado com isto. Contudo, quando os pais exigem e pressionam os filhos para serem melhores e os filhos não correspondem, os pais mostram-se zangados, frustrados e desiludidos. Aqui entra-se num ciclo vicioso, pois a forma como o atleta tende a interpretar essa resposta negativa dos pais é achando que “a responsabilidade pela infelicidade dos meus pais é minha”. E isto pode tornar-se numa grave “tragédia de identidade” para o atleta.

Na Psicologia do Desporto a relação atleta-pai-treinador é designada como “golden triangle”. A suposição é que assegurando um “triângulo saudável”, o atleta poderá crescer saudavelmente no desporto. Já quando essas dinâmicas relacionais não estão asseguradas ou são negligenciadas, a probabilidade de que o atleta possa não crescer saudável no desporto aumenta drasticamente. Resumindo, a área culturo-relacional é super importante de ser trabalhada. Contudo, ela não é a única ou a mais importante. Eu considero a dimensão relacional tão importante como a parte física de treino, assim como a parte mental, psicológica e emocional e, finalmente, a parte sistémica e estrutural que, no fundo, proporciona o acesso do atleta a sponsors, médicos, fisiologistas, fisioterapeutas, mental coaches, etc. Penso que ficar a tentar perceber qual destas 4 dimensões é mais importante, é despender energia desnecessariamente. O ponto óbvio e lógico é que estas 4 dimensões estão sempre presentes em qualquer ocasião (elas tetra emergem) e, por tal, estão continuamente a influenciar o outcome da performance. No fundo, tudo aquilo que todos querem e pretendem: performance e resultados. 

Uma abordagem à performance desportiva do atleta (ou de uma equipa), que não considere uma ou mais destas 4 dimensões fundamentais é, inevitavelmente, uma abordagem parcial e, como tal, o potencial de impacto na performance fica limitado. 

“Os atletas devem procurar outras formas de entender o sucesso, pois só há uma medalha para o 1.º e todos a querem conquistar”

[Ana Adão + Bernardo Machado]

A expressão “morrer na praia” é frequentemente usada no desporto. Como se lida com um atleta que esteve quase a conseguir o feito da sua carreira e acabou por deixá-lo escapar nos últimos instantes?

Mais uma vez, aqui tenta-se aprender a lidar com a perda (e desenvolver capacidades neste sentido). Esta é outra nuance super importante e fortemente negligenciada no desporto de alta competição. Um atleta quando perde aquela medalha, ou não consegue os mínimos para os Europeus, ou falha o score que lhe daria a passagem para a final, etc., passa sempre por um processo de dor. Foram muitos anos, horas intermináveis, uma vida a abdicar de muita coisa, muito suor e lágrimas para chegar àquele momento e não conseguir. Quando acontece, é muito doloroso para o atleta. E a realidade e verdade é mesmo essa: acontece. 

Contudo, na forma mais masculina que a nossa cultura desportiva tem em lidar com a dor (tipo de mentalidade “boys don’t cry”), os atletas fazem aquilo que chamo de bypass da dor e “seguem em frente”, sem processar emoções de tristeza, vergonha, raiva, medo, etc., que são importantes. Ora, não processar estas emoções é como não digerir a comida que ingerimos – é sempre problemático para todos nós, quando a digestão não corre bem. A neurociência tem, neste momento, vasta evidência que aponta para o luto que se experencia quando perdemos alguém querido, ser muito semelhante ao luto que um atleta numa experiência competitiva mais extrema (como a que estamos a abordar nesta questão) atravessa. Não processar saudavelmente estes momentos, leva a uma acumulação de “peso emocional” que, inconscientemente, acompanha o atleta em todos os seus treinos e todas as suas performances. 

Aquilo que desenvolvo com os meus atletas nestes casos, é o fortalecimento de capacidades para processar dor emocional, pensamentos negativos, e capacidade para aceitar estes momentos, como parte de um processo maior em que eles estão, inevitavelmente inseridos. E também, no qual se podem “redescobrir” e transcender nas performances desportivas e, consequentemente, na vida. É com esta abordagem que acredito que pode ser criado um ambiente mais saudável para o desenvolvimento dos atletas na alta competição, não só potenciando a performance, como também levando a um crescimento mais profundo e alicerçado destes atletas como seres humanos. Quando tal for possível, estaremos perante um novo paradigma do treino desportivo, em que as dimensões interiores do atleta e do coletivo que o envolvem, são integradas nas metodologias que já temos em abundância e em voga.

“(…) quando as dinâmicas relacionais não estão asseguradas ou são negligenciadas, a probabilidade de que o atleta possa não crescer saudável no desporto aumenta drasticamente”

[Manuel Centeno]

Qual o stress mais frequente num atleta que tem objetivos bem elevados e claros? Por exemplo, ser campeão nacional. 

Eu diria que é a ansiedade competitiva. Sendo que a ansiedade não é mais do que a emoção medo. Estar ansioso é antecipar algo que está para acontecer e que não queremos que aconteça. Por outras palavras é temer ou recear o que possa acontecer. Como os atletas têm tendência a visualizar o futuro que gostariam que aconteça, acabam a temer precisamente o contrário, e a fazê-lo frequentemente, o que desenvolve o padrão clássico de “nervos” nas provas, ou ansiedade competitiva. 

[Miguel Adão]

De todos os atletas com que já trabalhou, quais os que mais o fascinaram e cativaram? 

Manuel Centeno – a forma como “agarrou” o coaching e foi fazendo as práticas, com uma crença e acreditar incríveis. Ele tem uma energia muito positiva e vibrante e isso leva a uma partilha e interação muito boas, que acontecia frequentemente nas nossas sessões de coaching. Por outro lado, foi uma experiência ótima vê-lo ganhar a última etapa do Nacional, na Nazaré, após ter tido as duas primeiras sessões comigo super reveladoras e inspiradoras. E foi esta inspiração e motivação que ele levou para a etapa (que precisava de ganhar para ser campeão nacional), mesmo estando lesionado.

João Macedo ­– Pelo meu fascínio e admiração pelas ondas grandes e a coragem necessária para o fazer, o que me levou sempre a admirar muito o João, junto com a alegria e boa presença que sempre trás consigo para as sessões. Tem sido muito bom ir trabalhando em vários programas de coaching com o João. E foi muito bom vê-lo chegar ao primeiro Nazaré Challenge e conseguir o brilhante 3.º lugar. Tínhamos acabado de terminar o programa de coaching e ele teve a etapa na Nazaré uns dias depois. 

Mark Boyd – O Mark é 3x campeão nacional de Surf da Escócia, e este ano acabou vice-campeão. Quando veio trabalhar comigo, queixava-se de nos últimos três anos ter ido às finais, mas de não ter conseguido lidar com a ansiedade e pressão – lá está, o tema da questão anterior! Fizemos o primeiro programa de coaching e ele conseguiu o primeiro título. E desde então temos trabalhado três meses antes da competição e, com a exceção deste ano, ele foi sempre campeão nacional.

Carlos Fernandes – Ponta de lança do Benfica de Macau. Fizemos dois programas de coaching, e em cada um dos programas o Benfica de Macau foi campeão da liga, e ele foi o melhor marcador. Sempre apreciei muito a resiliência dele e incrível drive (em muitas maneiras semelhante ao Manel) para chegar aos objetivos. Hoje em dia é treinador do Benfica de Macau e estamos a fazer um programa de coaching, mas orientado para a liderança e comunicação como treinador. 

Miguel Adão ­– Porque era “um miúdo” (tinha 16 anos!) quando trabalhou comigo e foi uma “viagem” incrível que os dois fizemos – ele sabe ao que me refiro! :) Foi muito bom acompanhá-lo, durante uma fase muito, muito difícil que ele atravessou. Uns meses após o final do nosso programa, arrecadou mais um título de campeão nacional e o primeiro como vice-campeão mundial pro junior. 

Pedro Ramalho – Campeão Mundial de Jiu-Jitsu. O Pedro foi um exemplo de dedicação e de seguir um sonho incrível. Passou uma fase muito difícil durante o nosso programa, mas a marca ficou até aos dias de hoje. 

A lista é infindável e há uma parte muito clara em mim que reconhece perfeitamente o valor de TODOS os atletas que passaram por mim e que não consigo referir aqui. Todos eles, todos mesmo, foram e são muito especiais. 

“Como os atletas têm tendência a visualizar o futuro que gostariam que aconteça, acabam a temer precisamente o contrário”

Por último, o que é essencial a uma boa saúde mental? 

Corpo são, mente sã? Ou mente sã, corpo são? Os dois para mim são verdade. Se queremos uma boa saúde física, fazemos desporto e alimentamo-nos bem, mas não consideramos se o facto de passarmos o dia reativos e tensos tem algum impacto nessa mesma saúde física que desejamos ter. Por outro lado, quem deseja uma boa saúde mental, pratica meditação, pensamentos positivos, faz terapia, etc., mas pode não considerar a componente de exercício e saúde física com a mesma importância. 

Penso que para uma boa saúde mental é importante: 1) prestar atenção ao nosso corpo, ao nosso exercício físico, alimentação, sono, etc.; 2) explorar o nosso eu através de coaching, psicologia, terapia, praticar meditação, etc., e, no fundo, sentir que estamos a crescer interiormente e a desenvolver-nos como seres humanos; 3) prestar atenção às nossas relações e pessoas importantes na nossa vida. Cultivar essas relações e sentir que o sentimento de conexão interpessoal está presente; e 4) prestar atenção à nossa sociedade, às injustiças, ao planeta e tentar contribuir de alguma forma positiva. Penso que uma boa saúde mental, advém da combinação destas 4 dimensões.


Fotos de Tó Mané, Hélio António, Nuno Nóbrega, CNBBCA & arquivo pessoal