Parece automático. Sempre que há um swell forte e uma grande probabilidade de quebrarem altas ondas, não hesito em falar com as pessoas com quem mais gosto de surfar e partilhar bons momentos. Foi o caso deste dia em que, no dia anterior, falei com todos e ninguém acreditou que os Supertubos pudessem dar.
Todos me diziam que não valia a pena, que estaria demasiado grande, que a praia iria estar cheia de close outs… então seguiram todos para o Molhe Leste.
Mais uma vez parti sozinho na minha missão, volume no máximo, música a partir tudo e sem dizer uma palavra até chegar à Praia do Medão, vulgo Supertubos. Mal saí do carro deparei-me com alguns close outs bem gigantes até que vi o Manuel Centeno já a fazer a avaliação das condições.
A primeira coisa que me disse foi: “Ó pá… Olha que não sei!”
Eu respondi: “Isto é já p’rá água!”
Já estavam três surfistas no pico, mas nenhum bodyboarder. Isso foi o suficiente para mim. As condições eram as seguintes: de meia em meia hora entrava um set que parecia por momentos Puerto Escondido com 9-12 pés, o offshore era perfeito, nem uma nuvem no céu, mas muitos close outs de 3 metros a fechar de uma ponta a outra.
Eu não estava à espera do tamanho do mar, mas a vontade era tanta desde a Nazaré que entrei de imediato na água, bem em frente ao pico e sem levar com nenhuma das mais portentosas na cabeça. Nisto, esperava pacientemente no pico, à espera de uma daquelas esquerdas, quando fui dando conta que os surfistas saíam, um a um, da água.
Surfei duas horas seguidas sozinho nos Supertubos, pois o Manel acabaria por entrar apenas mais tarde, na maré mais vazia, com um amigo. Havia um fio de pesca no inside no qual toquei duas vezes e isso sim, assustou-me mais do que o tamanho dos sets. Pensei até em sair da água porque não queria tocar no fio uma terceira vez.
Fiz altas ondas até que chegou o meu mano, Luís “Ben” Coelho. Assim que ele entrou na água fizemos o habitual sinal no outside, mas com a forte corrente que se verificava nem conseguimos cumprimentar-nos. Foi nesse momento que ele me avisou que estava a entrar uma série gigante lá bem fora. Decidi remar com tudo para dentro, pois a primeira onda parecia perfeita.
Remei ao máximo para entrar, ela condensou muito e deslocava-se de forma quase lateral à praia. A esquerda parecia Pipe. Ouvia os gritos do “Ben”, mas quando comecei a dropar já não ouvi mais nada a não ser o barulho do lip a quebrar ao meu lado. Quando desci quase perdi a linha do rail e fiz o bottom até ao limite, o lip já tinha passado por cima de mim e já estava a bater ao meu lado e eu ainda sem terminar o meu primeiro bottom. Estiquei tudo para a frente da prancha e viajei no cilindro mais largo que alguma vez vi nos Super. Até o bafo asfixiou aquele momento e levei com a junção de frente sem sair do tubo.
Sem câmaras comigo, nenhum fotógrafo na praia naquele momento, bastou-me ficar com a imagem na cabeça. Até descobrir esta foto de Tom Kitson para me aperceber que, afinal, esta era a tal onda.
Texto: Tó Cardoso | Fotografia: Tom Kitson