Numa primeira análise, o Bodyboard e o BJJ (= Brazilian Jiu-Jitsu, na origem apenas Jiu-Jitsu) são muito diferentes. Porém, existem algumas semelhanças entre os dois que levam, por exemplo, vários bodyboarders a aderir à sua prática. 

Caso do gaulês Amaury Lavernhe, campeão do mundo em 2010 e 2014, do canário Yeray Martinez, e do brasileiro Chico Garritano (faixa preta 4º Dan), chefe de juízes do circuito mundial, mas também dos portugueses Vitor Sousa “Titó”, Carlos Guerreiro “Turco”, Ricardo Rico, Romeu Ribeiro, Luís Coelho, João André, Fábio Duarte, Gonçalo Pinheiro (que se tornou recentemente campeão nacional e passou a faixa azul), Bernardo Machado (que também venceu uma prova recentemente) e, claro, Manuel Centeno, que já leva 3 títulos nacionais e 1 europeu na sua conta pessoal. 

Hoje em dia, diz-se que há um cruzamento entre as práticas destes dois desportos que não tem necessariamente a ver com a força nem o ego, mas com o respeito, a humildade e o poder de superação. 

Tal como todas as outras artes marciais, o BJJ também exige perseverança, foco, prática e disciplina. Quem o pratica, procura acima de tudo aprender e melhorar. Convenhamos, o Bodyboard também assenta nestas premissas.  

Que semelhanças entre ambos? 

No BJJ o espaço de atuação é reduzido e por vezes temos que aprender a acalmar-nos, a trabalhar com o momento. A parte psicológica também tem muita influência, pois trata-se de dominar a mente e o corpo. Isto é muito semelhante ao oceano e aos desafios (constantes) encontrados pelos bodyboarders. Manter a calma sob pressão é essencial. Por isso, talvez os bodyboarders vejam o Jiu-Jitsu como um treino muito produtivo, mas também algo que confere resultados reais à pratica do seu desporto de eleição.

Força, equilíbrio, reação, timing e confiança são algumas das vantagens que o Jiu-Jitsu Brasileiro explora e acrescenta ao Bodyboard. 

Para Manuel Centeno há dois aspetos que saltam à vista. “O primeiro é que o BJJ é um tipo de desporto que obriga a um nível de concentração em que somos obrigados a focar-nos totalmente nele e não no dia-a-dia. Apesar de ser muito físico, relaxamos mentalmente. Às vezes até mais do que o Bodyboard onde, por vezes, quero esvaziar a cabeça e não se consegue de forma tão eficaz.

Depois, quando comecei no BJJ foi para ver como lidava com a ansiedade competitiva, algo que deixei de sentir tão intensamente no Bodyboard, onde já controlo mais e não fico nervoso como dantes. Numa competição de luta essa energia reaparece. Foi exatamente isso que me levou a competir, quis ver o que iria sentir e como iria reagir.” 

O multicampeão nacional salienta ainda que o BJJ “é um desporto interessante que está a evoluir muito, pois há muitas combinações de técnicas, não é algo estanque.” O veterano bodyboarder do norte explica: “No bodyboard, por exemplo, vão aparecendo manobras novas mas é muito raro, neste aspeto evolui-se mais noutro tipo de ondas e condições. Já no BJJ todos os dias se evolui uma vez que existem milhares de técnicas e combinações diferentes, ainda mais sabendo que cada técnica se adapta melhor a um tipo de fisionomia. Eu gosto bastante desta parte de estar em constante evolução.” 

Tal como tivemos oportunidade de enumerar antes, Manuel Centeno também realça as vantagens que o BJJ traz no campo físico. “O Jiu-Jitsu mantém a forma física, pois é super exigente. Para além de surfar, para manter a forma teria que nadar ou complementar com outros desportos, mas o BJJ nesse aspeto é muito bom. Explosão, resistência e flexibilidade, mais pulmão, é algo que se trabalha bastante”, termina por dizer. 

História (muito reduzida)

Jiu-Jitsu é uma arte marcial japonesa que utiliza técnicas de golpes de alavancas (chaves), torções e pressões para derrubar e dominar um oponente. A sua origem, como sucede com quase todas as artes marciais mais antigas, ainda que incerta, remonta às escolas de samurais, a casta guerreira do Japão. 

Com o tempo esta arte acabou por conquistar enorme popularidade no Brasil, terminando por ser denominada de Jiu-Jitsu Brasileiro – desenvolvida a partir do Judo (Ne waza = luta de chão) do mestre Kano (no início chamava-se “Kano Jiu-Jitsu”). 

Em 1913, um dos destacados instrutores do Centro Kodokan, Mitsuyo Maeda, também conhecido como “Conde Koma”, foi enviado a terras de Vera Cruz com a missão diplomática de receber os imigrantes japoneses e fixá-los no país.

Em Belém, o Conde Koma teve um aluno muito especial: Carlos Gracie. Este recebeu os ensinamentos por parte de Mitsuyo Maeda devido à afinidade deste com o seu pai (Gastão Gracie). Por sua vez, veio a ensinar a arte a todos os seus irmãos, em especial Hélio Gracie. Tanto Carlos Gracie como Luiz França foram os grandes inovadores do Jiu-Jitsu Brasileiro (BJJ) – que é o que se pratica atualmente no mundo inteiro.