O Circuito Nacional Open 2015 ainda não terminou, a sétima e última etapa tem lugar a 14 e 15 de novembro em Peniche, mas com a realização da penúltima etapa na Praia do Norte, no passado fim de semana, ficaram conhecidos os novos campeões nacionais (aqui). Por esse motivo e também aproveitando para fazer uma espécie de ponto da situação, investimos numa entrevista com Artur Ferreira, Vice-Presidente da Direção da Federação Portuguesa de Surf. Eis então o essencial de uma conversa, no mínimo, esclarecedora.

Para começar gostava que falasse da passagem do Circuito Nacional Open para as mãos da FPS e do esforço que isso implicou na vossa estrutura. Tendo em conta que nos últimos anos este esteve a cargo da APB, em que moldes e circunstâncias se deu essa transição?
No final de 2013 foi eleita uma nova direção da APB (Associação Portuguesa de Bodyboard). Por divergências internas, essa direção acabou por “ruir” em maio de 2014. A partir desta data a APB entrou em modo de gestão, concentrando-se na organização do Bodyboard Pro Tour 2014. Após a prova de Santa Cruz, fomos informados que o organizador/coordenador do circuito, tinha abandonado esta função. A partir deste momento, a Catarina Sousa e o Nuno Olim assumiram a organização do circuito com o objetivo de o finalizar. Após conversarmos com a APB, no final do ano, chegou-se à conclusão que esta não tinha condições para garantir a organização do circuito, pelo que a FPS fez aquilo que lhe correspondia, que foi tentar criar um circuito de custos realistas, com base nas indicações que os atletas haviam determinado como suas preferências em 2014.

Uma das novidades do circuito para este ano foi o incremento de etapas, aliás, muito bem acolhidas pelos atletas. Porém, o período de realização em cada etapa passou para apenas um dia. Fale-me um bocadinho dessa consolidação do circuito para sete etapas e também no porquê destas passarem a ser realizadas num único dia, o que faz com que seja uma jornada muito cansativa para todos os envolvidos, incluindo organização, com provas a não terminarem por falta de luz, entrega de prémios a terem lugar “às escuras” e sem ninguém a assistir, etc…
O formato do circuito 2015 foi definido com base nos seguintes dados: Análise da participação nos anos (2012 a 2014). A média do nº de inscritos, por etapa, sem contar com a etapa dos Açores, era de 48 atletas; Formato apoiado pelos atletas em 2014. As provas Prime estavam previstas num formato em que os atletas competiam seis vezes no mesmo dia. Esta situação foi revista, por sugestão da FPS, após uma reunião entre a APB, a FPS e os dois organizadores das etapas Prime em 2014. Acabou por se retirar do formato as fases de não eliminação ficando o formato definido com 3-4 rondas (dependendo de haver ou não condições para man-on-man) para a generalidade dos atletas. Portanto, considerando que um formato de 48 inscritos, embora difícil, era exequível num único dia, e ainda que a grande dificuldade das organizações era a sustentabilidade financeira dos eventos, a FPS optou por criar esta possibilidade no caderno de encargos, deixando assim a possibilidade de escolha aos organizadores, baseada nas suas reais possibilidades. A verdade é que apenas a organização da etapa da Costa de Caparica avançou com a proposta de fazer o evento em dois dias, permitindo a inclusão das três categorias na prova. No final de 2015 iremos naturalmente reavaliar e decidir o formato de 2016. Um dos pontos positivos do formato escolhido foi o interesse que houve na apresentação das candidaturas. Um dos pontos negativos foi que o modelo de um dia se revelou demasiado exigente. Pensamos que o próximo passo será criar um incentivo para que as organizações optem por organizar provas de dois dias.

No início do circuito também houve alguma polémica relativamente aos pontos a atribuir em cada etapa. Isto levou alguns atletas a tirarem conclusões precipitadas. Quer aproveitar para esclarecer a situação?
Não faço ideia de onde surgiu este mal-entendido. O caderno de encargos é claro relativamente a esta situação. Está previsto no caderno de encargos, que na categoria Open, as provas com 500 euros de premiação atribuem 1000 pontos ao vencedor, e que todas as provas entre 1.000-2.500 euros atribuem 1200 pontos ao vencedor. As provas da categoria Feminina e Dropknee atribuem 1000 pontos ao vencedor, independentemente do valor da premiação. A fundamentação por detrás desta decisão, é que o grau de dificuldade de uma prova não se altera pelo facto da premiação ser mais elevada. Os atletas de topo que se inscrevem são sensivelmente os mesmos, como tal o valor desportivo de uma prova de premiação de 1.000 euros é o mesmo que uma prova de 2.500 euros. É nosso entendimento que esta situação não deve influir no mérito desportivo e determinação do Campeão Nacional. A exceção da premiação de 500 euros, existe como fator dissuasor, pois a inscrição mínima são 20 euros, e um evento de premiação de 500 euros é altamente vantajoso do ponto de vista financeiro, queríamos evitar esta situação.

Um dos grandes pontos negativos que é apontado ao circuito este ano é precisamente a fraca comunicação. Como procura a FPS colmatar essa falha de forma a garantir mais visibilidade para os bodyboarders e até para o próprio circuito? Até porque, como se sabe, quanto maior a visibilidade mais patrocinadores se conseguirá atrair no futuro, de parte a parte…
É verdade, mas esta não é uma situação específica do Bodyboard. Ela reflete-se em todas as modalidades. Dois mil e quinze foi um ano de aprendizagem e avaliação das necessidades da FPS, enquanto organização. O orçamento da FPS é extremamente reduzido face à sua atividade. Tivemos de definir prioridades e adaptar a nossa estrutura de custos. O foco colocou-se em “emagrecer” a despesa administrativa para poder investir na área desportiva, nomeadamente nas seleções. Uma das áreas que sofreu com este exercício foi precisamente a comunicação que, desde então, está entregue a cada um dos promotores dos eventos. Esta é uma das situações que deverá ser revista para 2016.

Passando para outro tema. Uma das boas novidades anunciadas pela FPS para este ano, relativamente ao bodyboard, foi precisamente a participação no ISA World Championship que tem lugar em dezembro no Chile. Essa parece ser uma aposta forte desta direção. Fale-me um bocadinho sobre isso…
Desde que assumimos a direção da FPS, que definimos como prioridade o projeto das Seleções Nacionais. Estivemos em 2013, até ao último momento a tentar garantir a participação no Mundial na Venezuela, mas infelizmente não foi possível. Portugal tem uma história nesta competição que torna obrigatória a presença no ISA Bodyboard World Championship. Infelizmente, a estratégia da direção anterior não era esta, tendo chegado a receber verbas adicionais para viabilizar a deslocação da seleção à Venezuela em 2012, tendo posteriormente optado por aplicar essa verba de outra forma.

Para concluir, em termos gerais, que balanço faz a FPS do bodyboard em Portugal e de que forma espera continuar a contribuir para a sua evolução?
O Bodyboard passa por uma fase de renovação, era impossível manter níveis de crescimento semelhantes aos que se viram no final dos anos 90. É fácil olhar para o passado e identificar oportunidades não aproveitadas. Pensamos que esse é um exercício que só é benéfico para corrigir opções passadas. Temos de nos concentrar nos próximos anos. A verdade é que, em 2015, apesar de ainda faltarem diversas etapas nos circuitos de Bodyboard, pela primeira vez desde 2007 há um aumento de rankeados face ao ano anterior. Sendo o número de rankeados atualmente já superior aos de 2014 e 2013. Sendo que o maior aumento é na categoria de Sub-12 e Open Masculino. O número de federados apresenta também desde o ano passado uma evolução favorável, sendo inclusivamente mais expressiva que a de rankeados. A somar a estes dados, há também as prestações da nova geração de bodyboarders, onde se destacam atletas como o Miguel Adão, com um ano majestoso em 2014, Campeão da Europa, 2ª lugar na categoria Pro Junior no Sintra Portugal Pro, quem tenha assistido ao Mundial do Chile seguramente não terá duvidas sobre quem era o atleta que mais se destacava na água, e que acabou ingloriamente num 4º lugar. O Ricardo Rosmaninho com três muito sólidas prestações nas últimas três etapas da APB World Tour que se realizaram em Portugal. O Stephanos Kokorelis, o Guilherme Guerra, etc. Também no feminino, o panorama tem sido muito animador. Esta é uma categoria onde Portugal tem demonstrado maior capacidade de renovação. Primeiro a Dora Gomes, depois a Rita Pires e a Catarina Sousa, e mais recentemente a Teresa Almeida e a Joana Schenker. Creio que a aposta na seleção é basilar na estratégia de futuro do Bodyboard em Portugal. Existem ainda muito bons indicadores do potencial da modalidade, mas a margem de manobra reduziu-se muito, não podemos perder tempo despendendo energia em situações que não gerem valor. A iniciativa do Campeonato Nacional de Masters, desde que bem canalizada, tem um bom potencial para trazer de volta, algumas pessoas importantes para a reafirmação da modalidade.