A algarvia Joana Schenker faz um resumo de um de ano de ouro em que conquistou os títulos europeu e nacional conseguindo ainda, finalmente, a tão ambicionada nacionalidade portuguesa.

2014 foi um ano de luxo. Campeã do ETB e da Bodyboard Pro Tour pelo segundo ano consecutivo. Qual o resumo possível?
Este ano foi excelente, as coisas foram acontecendo e no final o resultado não podia ter sido melhor. Durante todo o ano fui competindo heat a heat, sempre a tentar fazer o melhor possível, sem me fixar demasiado no resultado final, sem expetativas, mas focada todo o tempo. De certa forma, estes resultados não só me deixaram muito feliz, mas deram-me serenidade, uma calma interior, um sentimento de alívio e objetivo cumprido que é muito bom.

Este ano também reclamaste, pela primeira vez, o título de campeã nacional já que viste, finalmente, ser averbado o estatuto de cidadã portuguesa…

Sim, é verdade, já tenho dupla nacionalidade. É um processo demorado e, acima de tudo, dispendioso e confuso. Posso dizer que gastei bastante dinheiro em traduções e certidões, e no final só com a colaboração da FPS o processo foi concluído a tempo de poder receber o titulo de campeã nacional.

Foi emocionalmente ingrato não poderes reclamar o título de campeã nacional em 2013?
Inicialmente não pensei muito nisso, estava apenas contente por finalmente de conseguido vencer. Nos dias seguintes começou a haver alguma confusão nas redes sociais, muitas pessoas ficaram confusas, não perceberam afinal quem tinha ganho e aí começou a polémica. Talvez tenha sido um pouco ingrato em termos de retorno mediático para os meus patrocinadores, mas nunca emocionalmente, pois recebi também muito apoio do seio do bodyboard e de vários atletas que respeito muito.

És definitivamente uma das bodyboarders mais progressivas, mas sempre tiveste alguma dificuldade em aliar o killer instinct à valia técnica. Será isso que explica o sucesso?

O killer instinct não é uma coisa natural em mim. Aliás, não me considero uma pessoa competitiva. Valorizo, acima de tudo, a qualidade de surf num atleta e não a sua capacidade de dar voltinhas aos adversários. Tive que crescer nesse sentido, sinto que agora tenho mais confiança nas minhas capacidades e isso foi a grande mudança este ano. Não estou mais agressiva a competir, estou mais calma e mais focada, automaticamente isso faz com que surfe melhor e cometa menos erros táticos.

A Bodyboard Pro Tour 2014 foi considerada por muitos de histórica, especialmente pela reformulação do formato e pelas ondas épicas com que foi recompensada na última etapa na Nazaré. Que pensas disso?
Em geral acho que foi um circuito muito bom. Houve um grande esforço das pessoas envolvidas para realizar todas as etapas do calendário e no final conseguiu-se o mais importante, que é passar uma boa imagem do bodyboard nacional. Houve boas ondas em muitas das provas, o nível dentro de água esteve elevado, o novo formato contribuiu para a motivação dos atletas. As condições épicas na Nazaré foram a melhor maneira de acabar o ano e exatamente o que o nacional já merecia há muito tempo.

O que gostarias de ver de diferente no Nacional e, em particular, no feminino?
Na minha opinião, sete etapas para a categoria feminina é demais, pois torna o circuito muito dispendioso para as atletas. Quatro é suficiente. As etapas “Prime” com período de espera foram uma excelente adição ao circuito, as condições que tivemos na Nazaré são a prova disso. Penso que a maneira como o circuito foi estruturado para os homens não foi a mais correta; podia ter tido na mesma o Top 16 apurado para as Prime, mas não devia ter sido feito um “reset” nas pontuações.

Parece-te que o bodyboard feminino está a “perder gás”?
De maneira nenhuma. Não via um nível tão elevado no circuito nacional há bastante tempo. Aliás, senti isso na própria pele, não houve heats fáceis, foram todos disputados até ao fim. As atletas estão motivadas, cheias de garra e a evoluir bastante. Estamos no caminho certo.

Agora que és uma atleta portuguesa de pleno direito, gostarias de um dia ser chamada à Seleção Nacional?
É sempre uma honra ser escolhida para representar um país numa competição, ainda mais quando apenas pode ir uma atleta. Se tiver a oportunidade de representar a seleção portuguesa, com certeza que o farei com todo o gosto e darei o meu melhor.

Qual foi a arma por ti escolhida nesta época vitoriosa? 

A minha prancha de eleição foi a Rigby Loaded Core em 39.5”. Adoro essa prancha, fiz o ano todo com ela. Finalmente consegui o tamanho certo para mim e o loaded core é um pouco mais flexível que me permite surfar de uma forma menos forçada.

Que podemos esperar em 2015?
Tudo vai depender dos apoios que conseguir. Quero competir, mas também gostava de fazer alguma coisa em free surf, apanhar ondas boas e filmar. O mais importante é continuar concentrada em evoluir e surfar melhor.


Texto: Science Media | Fotografia: Action Sport Azores